Título: US$ 1,4 bilhão no exterior
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2011, Economia, p. 17

Comprar no exterior tornou-se uma febre incontrolável para os brasileiros. Apenas em abril, os turistas gastaram em solo estrangeiro US$ 1,4 bilhão e protagonizaram um novo recorde da série histórica do Banco Central, iniciada em 1947. O maior valor havia sido registrado em outubro de 2010, quando as despesas fora do país atingiram a marca de US$ 1,2 bilhão.

O número surpreendeu especialistas, já que abril é, tradicionalmente, um mês de poucas viagens internacionais. O dólar em patamar baixo frente ao real, a renda ainda em alta e a ascensão de 30 milhões de pessoas à classe média nos últimos oito anos são apontados como as principais justificativas para dados tão expressivos.

Pelos cálculos do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, em 2016, o Brasil será a terceira economia do mundo que mais enviará turistas para aquele país. Também será o sexto na posição dos que deixam dinheiro por lá. A expectativa dos norte-americanos é de que o número de brasileiros que visitam os EUA avance 150% no período. Esse contigente gastará US$ 3 bilhões por ano em passeios e, principalmente, em compras de eletrônicos. Segundo os técnicos do Departamento de Comércio, os preços desses produtos são melhores nos EUA do que no Brasil.

¿A conta de viagens tem surpreendido bastante. Ela pode não definir para que lado vão os resultados das transações correntes do Brasil com o mundo, mas o valor gasto lá fora tem ficado sempre acima do esperado por especialistas¿, avaliou Bruno Lavieri, analista da Consultoria Tendências. Segundo Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, também no primeiro quadrimestre do ano, as despesas dos brasileiros lá fora foram recordes para o período.

O rombo nessa conta chegou a US$ 4,3 bilhões, volume 76% superior ao do ano passado. ¿Esses dados, porém, ainda não incorporam o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas compras em cartões de crédito no exterior, para 6,38% (desde 26 de abril ) ¿, observou.

Para maio, os números preliminares indicam um arrefecimento nos gastos. Enquanto os estrangeiros que visitam o Brasil despejaram US$ 418 milhões aqui até 25 de maio, os brasileiros desembolsaram US$ 1,2 bilhão ¿ deixando um deficit de US$ 824 milhões, número 41,3% menor que o de abril. A dúvida é se esse movimento se deu pelo fato de o mês ser de baixa temporada ou se foi efeito do IOF nas compras com cartão.

Muda perfil da dívida externa O Banco Central obteve sucesso ao impor o pagamento de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos realizados no exterior com vencimento inferior a dois anos. Segundo Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, o perfil da dívida brasileira lá fora mudou depois dessa medida. As empresas e bancos estão trocando os débitos de curto prazo pelos de longo. No caso das instituições financeiras, os empréstimos com vencimentos acima de um ano, considerados de longo prazo, cresceram 7,3% entre março e abril. Os de curto prazo, de menos de 12 meses, encolheram 4,8%. As empresas seguiram a mesma estratégia e estenderam os vencimentos de seus financiamentos lá fora. A dívida externa total do país cresceu 2% em abril e chegou a US$ 282,4 bilhões.