Título: Reino Unido vê o Brasil em destaque
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2011, Mundo, p. 23

O Reino Unido está em busca de uma nova fase na política e na diplomacia na América Latina. E o Brasil faz parte dos planos da expansão britânica. O ministro encarregado da América Latina e da Olimpíada do Ministério das Relações Exteriores, Jeremy Browne, esteve no país para conversar sobre novos projetos e estimular o comércio bilateral. O diplomata elogiou a atuação brasileira na defesa dos direitos humanos e assinalou apoio à candidatura do país para uma vaga permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Em entrevista ao Correio, ele admitiu que nas últimas décadas os britânicos foram ¿negligentes¿ com os países latino-americanos, mas que eles estão prontos ¿para um novo entendimento e muito mais intercâmbio¿ no futuro. Browne acredita que o Brasil pode aprender com a experiência do Reino Unido em sediar a Olimpíada, em 2012. E aplicar o conhecimento na realização da Copa do Mundo de 2014.

Como o Reino Unido avalia suas relações com a América Latina? Nós temos uma longa história com a região, mas nas últimas décadas nos mostramos um pouco negligentes. Estamos determinados a ter uma grande melhora nas relações britânicas com os latino-americanos. Vamos aumentar o número de pessoas que trabalham nas embaixadas, queremos ampliar o intercâmbio, que já existe com Brasil, mas pode melhorar.

E como fica a parceria entre o Reino Unido e o Brasil? Queremos trabalhar em vários temas, como mudanças climáticas e direitos humanos. Estamos empolgados em sediar os Jogos Olímpicos no próximo ano. Depois vai ser a vez do Brasil, e vamos poder cooperar nesta questão. Minha mensagem é a de que o Reino Unido é um grande amigo do Brasil. Sempre nos demos bem, mas não fizemos o suficiente nas últimas décadas, e reconhecemos isso. Vamos fazer muito mais no futuro.

Como será essa mudança? Nós pensamos no Brasil como um grande ator nas relações internacionais, assim como outras economias que cresceram rápido, como a China e a Índia. Nós temos muitas semelhanças culturais com o Brasil e queremos uma relação mais estreita em todos os níveis, não apenas no diplomático, em termos do esporte, comércio, direitos humanos, educação e pesquisa científica. Em todas essas áreas podemos nos beneficiar, tendo uma relação mais próxima do Brasil. Nós podemos trabalhar juntos nisso. Durante a minha visita, eu encontrei empresários britânicos que investem no país e criam empregos. Mas também realizam pesquisas científicas em parceria, especialmente em células-tronco, que é uma forma de trabalhar junto para o bem-estar comum da humanidade.

E no campo do comércio, como deve ser esse crescimento de relações? Se nossa relação comercial fosse uma montanha, nós estaríamos quase chegando ao topo. Temos relações fortes, mas que podem ser ainda mais trabalhadas. É um processo de duas vias. O governo britânico é a favor de um comércio livre e de mercados abertos. Minha mensagem para os empresários brasileiros é: invistam no Reino Unido, temos taxas competitivas e um bom ambiente para negócios. E eu espero que os empresários britânicos consigam ver as oportunidades no Brasil também.

O senhor acredita que o novo governo brasileiro esteja mais ativo em relação aos direitos humanos? Eu creio que os brasileiros acreditam que o Brasil esteja se tornando uma voz mais forte nos direitos humanos. O Brasil deu um salto nos últimos anos sobre o assunto. Eu falei com ativistas daqui e eles acham que é preciso fazer um trabalho em relação à polícia e às condições carcerárias. Mas já há um progresso significativo. O Brasil tem uma sociedade civil forte. Espero que o país seja um parceiro forte, em termos de lutar pelos direitos humanos no resto do mundo. Ajudaria que não somente os países europeus fizessem campanha a favor disso. Estamos entusiasmados com o auxílio brasileiro.

Como o Reino Unido avalia o papel do Brasil no cenário internacional? Nós vemos de forma muito positiva. O Brasil tem se tornado cada vez mais importante no cenário mundial e já é a sétima economia maior do planeta. Em breve, será a quinta. O discurso brasileiro tem sido mais alto e mais respeitado na comunidade internacional, e o Reino Unido é um grande apoiador de o Brasil tornar-se um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Também queremos trabalhar com o Brasil como um grande parceiro, acredito que há muitas oportunidades em que nossos valores podem ser similares. Podemos mandar mensagens claras ao resto do mundo. Estamos entusiasmados com a ascensão do Brasil.

E a Olimpíada? Que projetos devem ser desenvolvidos com Londres nos próximos anos? É um evento esportivo, mas exige uma tarefa de organização enorme. Você tem sete anos para se preparar, e nós queremos trabalhar com países com várias questões. Mostrei para o embaixador brasileiro a Vila Olímpica de Londres, e o que estamos trabalhando, o projeto de administração, o ambiente sustentável e o que chamamos de legado. Isso para, quando terminarmos a Olimpíada, não ficarmos com um local parado, que ninguém use mais. Podemos trabalhar em diversas áreas, como transporte e segurança. Obviamente, queremos sediar os melhores jogos que já existiram. O desafio para o Brasil é melhor ainda mais em 2016. Esperamos que vocês possam aprender com a nossa experiência. Mas cada edição é diferente e os brasileiros terão novas ideias. A experiência será aplicada à Copa do Mundo, que esperamos vencer , já que só ganhamos uma vez (risos). E tem muitas áreas que podemos colaborar, como turismo e transmissão.