Título: Dilma toma as rédeas
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2011, Política, p. 2

A partir de segunda-feira, a presidente estará envolvida diretamente na articulação política com o Congresso e receberá a bancada do PMDB e do PTB.

Por Há cinco meses no cargo, a presidente Dilma Rousseff só agora se prepara para colocar, a partir desta segunda-feira, os dois pés na articulação política do governo. Ela fechou a semana agendando uma maratona de almoços e encontros políticos. Além de receber a bancada de senadores do PMDB, estará ainda com o PTB na quinta-feira, e terá uma reunião com os líderes partidários na Câmara. E até o fim de junho, fará encontros semelhantes com todos os partidos da base, por ordem de tamanho. A intenção da presidente é colar os cacos da base aliada que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a juntar em seu périplo de pouco mais de 24 horas por Brasília. Em todas as reuniões, contará com a presença do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que aproveitará para explicar aos aliados o aumento do seu patrimônio, e assim evitar uma ida ao Congresso. A ideia é seguir o roteiro do almoço com os senadores do PT, realizado na última quinta-feira, no Palácio da Alvorada.

Dilma começou os encontros políticos pelo PT por exigência do partido e orientação de Lula. Afinal, não queria passar a impressão de que iria atender primeiro o PMDB. Ainda mais depois de o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves, ter batido o pé e mantido a posição de não seguir as ordens palacianas na hora de votar o Código Florestal. ¿Eu avisei a Palocci que só tinha um jeito de eu mudar: deixar a liderança do partido. A posição da bancada estava fechada. A votação do código não pode ser tomada como uma questão de governo, uma vez que o PSol e o PT votaram juntos e outros partidos da base, não. Se fosse uma questão de governo, Chico Alencar (PSol) e Paulo Teixeira (PT) não estariam na mesma foto¿, disse Henrique, enfático na defesa do que considera questões de governo: ¿Nós separamos questão de Brasil da questão de governo. Atuamos com o Planalto nas questões governamentais, votamos o salário mínimo, as medidas provisórias e também evitamos a convocação do ministro Palocci nas comissões. Se alguém quer guerrear conosco, é bom saber que estamos desarmados. Nosso projeto em 2014 é Dilma-Michel. Não fazemos jogo duplo¿, afirmou, referindo-se aos planos futuros.

Embora Dilma tenha dado prioridade ao PT, o governo sabe da importância do PMDB para um bom andamento da política, inclusive para evitar maiores constrangimentos a Palocci, como convocações ou uma CPI exclusiva no Senado, listado como o primeiro terreno que Dilma deve pavimentar, se quiser evitar maiores problemas. Esse foi o principal diagnóstico da conversa de Lula com os líderes na casa de José Sarney, na quarta-feira passada. O diálogo começou com Lula fazendo uma introdução: ¿Dilma tem 54 senadores da base, eu tinha só 47 e, às vezes, nem isso¿Tá tudo bem, né?¿ Enquanto alguns, como Renan Calheiros e Sarney, concordavam, sem jeito de dizer a verdade a Lula, Magno Malta foi direto:

¿ Desculpe, mas não está nada bem, não! A presidente não recebe ninguém. Esse Palocci não fala com ninguém. Todo mundo no governo tem síndrome de Aloizio Mercadante, se acha. Ninguém atende nada, nem retorna ligação. Salomão já dizia: a arrogância precede a ruína.

¿ Não é possível, não é possível, reagiu Lula.

¿ É verdade e com o Gilberto Carvalho é a mesma coisa, completou Acyr Gurcacz, ouvindo mais um ¿não é possível¿ de Lula.

¿ Presidente, não posso mentir para o senhor. É isso mesmo, afirmou Gim Argello (PTB).

¿ Humberto (Costa, líder do PT no Senado), você que é do nosso partido, fala com Palocci?, quis saber Lula.

¿ Falo o quê? Tá difícil. Não consigo levar ninguém lá, respondeu o petista Humberto Costa.

¿ Pois você tem que botar o pé na porta e dizer que tem que falar! E o Luiz Sérgio?

¿ Ele atende, mas não tem autonomia, lembrou Marcelo Crivella (PRB-RJ).

O diálogo terminou bem mais calmo, com todos interessados em ajudar o governo, desde que o Planalto passe a dar mais atenção aos políticos. Lula pediu calma, lembrou que o governo tem apenas cinco meses e garantiu que Dilma esteve ausente, por causa da pneumonia, mas agora estava de volta, pronta para tomar o bastão da coordenação política e sem fazer mudanças na equipe. Pelo menos no momento, não há planos de troca de ministros.

ANTES, O PARTIDO O vice-presidente Michel Temer trata primeiro de unificar o PMDB no Senado para depois apresentar a bancada a Dilma. Na quinta-feira, ele recebeu sete dos oito senadores independentes, o G-8, que reclamam da liderança de Renan Calheiros (AL). Na segunda-feira, será a vez de reunir o grupo com a ala governista num jantar. Temer pediu a unidade da bancada e, em seguida, um crédito de confiança para Antônio Palocci. Obteve o primeiro pedido. Quanto ao crédito de confiança ao ministro, vai depender dos desdobramentos e das explicações que Palocci der ao Ministério Público.