Título: Vídeo vetado por Dilma era usado desde 1995
Autor: Leite, Larissa ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2011, Brasil, p. 14

EDUCAÇÃO

No kit contra a homofobia que teve a circulação suspensa, há produções usadas em sala de aula há 16 anos.

Baseado em uma história verídica, o vídeo Boneca na mochila conta a história de uma mãe aflita, chamada a comparecer à escola onde o filho estuda porque o flagraram com uma boneca na mochila. O vídeo, incluído no kit contra a homofobia do Ministério da Educação suspenso pela presidente Dilma Rousseff, foi produzido em 1995. Desde então, é utilizado para capacitar profissionais vinculados a secretarias de Educação de todo o país pela organização não governamental Ecos ¿ Comunicação em Sexualidade. Segundo a coordenadora de criação da ONG, Maria Helena Franco, não é possível estimar quantos estudantes entraram em contato com o vídeo. ¿Já fornecemos a milhares de instituições. É um material consagrado e muitas escolas trabalham com ele¿, afirma.

De acordo com a ONG, o Boneca na mochila deve ser utilizado não apenas com estudantes, mas para a formação de educadores, mães, pais e familiares da comunidade. ¿Os vídeos são acompanhados de guias de discussão e sugestões de atividades. Os profissionais que vão usar qualquer material do kit devem ser capacitados¿, reiterou Helena. Segundo a coordenadora, 180 educadores já foram capacitados para usar o kit, em cinco seminários, ainda que ele tenha sido suspenso. Além do vídeo, a animação Medo de quê?, de 2005, também foi integrada ao kit. Outros três audiovisuais, Torpedo, Encontrando Bianca e Probabilidade, foram produzidos especialmente para o projeto Escola sem Homofobia.

Ontem, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que um dos motivos pelos quais a presidente suspendeu a distribuição teria sido uma ¿frase inadequada¿. Em uma das falas, um garoto afirma que ¿ficar com meninos e meninas aumenta a sua probabilidade¿ de encontrar alguém. ¿A frase sugere que bissexualidade seja uma coisa boa e o objetivo do material é combater a homofobia¿, comentou Haddad.

Emenda Apesar de ter iniciado a preparação do material anti-homofóbico em 2008, o MEC já desenvolvia, desde 2005, o projeto Escola sem Homofobia, para formar profissionais da educação em cidadania e diversidade sexual para lidar com temas relacionados à orientação sexual e de identidade de gênero. Os custos do projeto não são indicados pelo MEC e, com base nos dados do orçamento da pasta, também não é possível saber quanto se gastou com o programa. Isso porque, com a política anti-homofóbica, ainda há educação quilombola, indígena, no campo. Com todos esses projetos, o ministério desembolsou, com recursos de uma emenda da Comissão de Legislação Participativa do Congresso, R$ 6,8 milhões .

Em meio à falta de informações, a certeza é que a verba destinada à produção dos vídeos da campanha vem da emenda. Cabe ao MEC aplicar ou não os recursos da sugestão vinda do Congresso. Além das bancadas religiosas, a oposição já demonstrou irritação com o caso. O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), afirmou que o partido vai entrar na Justiça para fazer com que os recursos gastos com a elaboração e a distribuição dos kits sejam devolvidos à União.

DISQUE 100 De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), o módulo LGBT do Disque 100 recebeu, de janeiro a abril deste ano, 378 denúncias de violações ¿ uma ligação pode denunciar mais de um tipo de violência. No período, 46% das denúncias são de violência psicológica. Outros 30,43% são de discriminação, seguida de violência física (14,7%) e violência sexual (6,6%). Este é o primeiro balanço do módulo divulgado pela SDH.