Título: A escolhida dos ricos
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Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2011, Economia, p. 21

Líderes dos países desenvolvidos se unem em torno de Christine Lagarde para chefiar o FMI

Reunidos em Deauville, na França, os líderes do G-8 (grupo que reúne as sete economias mais industrializadas do mundo e a Rússia) deram como certa a nomeação da ministra da Economia da França, Christine Lagarde, para o cargo de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Embora o assunto não tenha entrado na pauta oficial de negociações, os chefes de Estado e de governo sacramentaram o nome da substituta de Dominique Strauss-Kahn, ex-número um do organismo, que está em prisão domiciliar em Nova York sob a acusação de tentar estuprar uma camareira de hotel.

¿Lagarde está dentro¿, garantiu um participante do encontro. Os governos dos países desenvolvidos querem, agora, encontrar compensações para os Brics, grupo das principais nações em desenvolvimento formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Para fazê-los desistir de uma candidatura emergente e aceitar Lagarde, o cargo de primeiro vice-diretor-gerente pode ser oferecido a um economista chinês, indiano ou brasileiro. Desde a criação do FMI, em 1945, a chefia é conferida a um europeu, enquanto a segunda cadeira mais importante é ocupada por um norte-americano.

Os únicos dois candidatos declarados vão visitar o Brasil na semana que vem: Christine Lagarde e o presidente do Banco Central mexicano, Agustin Carstens. O governo brasileiro ainda não decidiu quem vai apoiar. Nos encontros que terá com eles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai cobrar o compromisso de dar mais poder aos emergentes nas decisões do Fundo. A equipe econômica já trabalha com a provável hipótese de a francesa ser mesmo a escolhida, mas quer tirar dela a promessa de que será a última eleita originária da Europa.

Preparando-se para visitar o Brasil, a China e a Índia, Lagarde disse ontem, em entrevista à rádio BBC, que a nacionalidade não deve ser o fator decisivo na escolha. Mas afirmou que a compreensão da crise da dívida dos países europeus e da realidade política do continente é uma ¿vantagem¿ que deve ser levada em conta. Ontem, Strauss-Kahn saiu pela primeira vez do apartamento onde está preso, no bairro de Tribeca, no sul de Manhattan. Ele tem direito a receber convidados, assistir a audiências judiciais, reunir-se com seus advogados, visitar o médico e participar de serviços religiosos. Às 9h da manhã, ele e a mulher, Anne Sinclair, já haviam voltado.