Título: O difícil resgate da Finatec
Autor: Abrahão, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2011, Opinião, p. 25

Presidente da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec)

As universidades brasileiras buscaram nas fundações de apoio um instrumento para viabilizar o desenvolvimento da pesquisa e da disseminação do conhecimento. Em todo o Brasil, as fundações estão presentes na maioria dos câmpus universitários, apoiando e desenvolvendo novos projetos em favor do conhecimento científico e tecnológico.

Nesse contexto situa-se a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), entidade de apoio à pesquisa da Universidade de Brasília (UnB). Criada com o objetivo de incentivar o desenvolvimento tecnológico, servindo de ponte entre a iniciativa privada, órgãos governamentais e a universidade, a Fundação vem auxiliando pesquisadores e alunos ao longo de 19 anos.

A Finatec sempre esteve presente na vida da UnB, apoiando, entre outras tantas atividades, a participação de professores e alunos de pós-graduação em eventos científicos nacionais e internacionais. Financiou publicações e propiciou recursos aos professores orientadores de projetos finais de graduação e de iniciação científica.

A Fundação já gerenciou para a UnB mais de 4 mil projetos de pesquisa e de consultoria, financiados por agências nacionais e internacionais de fomento. Esses projetos vão desde as pesquisas no tratamento da leishmaniose no Brasil, do estudo do Cerrado com relação às mudanças em sua cobertura vegetal, à otimização de redes de transmissão de energia elétrica.

A UnB está há dois anos sem nenhuma fundação de apoio credenciada, o que a impossibilita de executar dezenas de projetos de pesquisa de seus professores, acarretando enormes prejuízos, tanto para os docentes quanto para a universidade. E foi por causa do reconhecimento da necessidade de uma fundação de apoio que levou um grupo de professores da UnB a se mobilizar e assumir a direção da entidade em maio de 2010. A nova direção da Finatec estabeleceu negociações com a Universidade visando a seu credenciamento como fundação de apoio e comprometendo-se com o resgate da credibilidade da entidade.

Após sucessivos avanços e retrocessos, obteve-se, finalmente, junto ao Conselho Universitário (Consuni) da UnB, a readmissão da Finatec como fundação de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. Prevaleceu o entendimento de que, apesar dos acontecimentos em passado recente que levaram a instituição ao descrédito, a Fundação era imprescindível para o funcionamento e avanço da pesquisa na UnB.

Portanto, o grande desafio colocado a esses professores foi o de transformar uma organização desacreditada junto à comunidade em uma fundação exemplar. Um belo desafio! Mas se um grupo de professores, altamente capacitado, não fosse capaz de operar a mudança, então, quem seria?

Estaríamos oferecendo para a sociedade um atestado de competência ou de incompetência nas questões de gestão? Trabalhamos arduamente e obtivemos o reconhecimento interno da seriedade dos nossos propósitos. Acreditávamos que, finalmente, a Universidade teria de volta a sua fundação de apoio.

O último degrau da nossa longa jornada em busca da normalização deveria se concretizar pela avaliação técnica de um grupo interministerial formado pelos ministérios da Educação e o da Ciência e Tecnologia, que são, em grande medida, responsáveis pela produção do conhecimento no Brasil.

Surpreendemo-nos, no entanto, com o fato de que uma análise técnica tinha se transformado em um processo judicial. Acreditamos de boa-fé que esses ministérios tão ligados à educação e à ciência brasileira seriam capazes de conceder à Universidade de Brasília a chance de demonstrar que é possível reconstruir as bases da Fundação sob os paradigmas da responsabilidade, da honestidade e da ética.

A comunidade interna nos hipotecou seu voto de confiança. Nesse sentido, cabe indagar a quem interessa manter uma universidade do porte da UnB alijada da possibilidade de receber recursos que fortaleçam a qualidade de sua produção cientifica?

O fato de a Finatec ter processos tramitando na Justiça estaria concorrendo fortemente contra o seu credenciamento. É bem verdade que os processos existem, frutos de situações anteriores e alheias à atual gestão. No entanto, eles ainda não foram julgados em seus respectivos méritos.

Estaríamos, então, desamparados da cláusula pétrea da Constituição de que ninguém pode ser condenado até o julgamento final do mérito? A adoção por essa gestão de uma postura de estrito cumprimento das normas vigentes e de uma administração aberta e transparente, manifestada após um ano na direção da Fundação, não tem sido, infelizmente, suficiente a uma mudança de atitude dos órgãos governamentais envolvidos no processo de credenciamento.