Título: O risco prevalece
Autor: Prates, Marco
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2011, Cidades, p. 31

As três corporações envolvidas na segurança do lago descartam reforço na fiscalização após o maior acidente náutico ocorrido no espelho d"água. Especialista avalia que 2 mil embarcações a circular pelo local exigem mais homens de prontidão

Apesar das nove mortes ocorridas por conta do naufrágio do Imagination no último domingo, a segurança no Lago Paranoá ficará sem reforços. A fiscalização e a cobrança das normas de navegação das 2 mil embarcações a circular pelo local são de responsabilidade de três corporações, que não sinalizam a possibilidade de aumentar o contingente do Corpo de Bombeiros, do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) e da Marinha. Enquanto o Governo do Distrito Federal (GDF) se limita a oferecer ajuda de infraestrutura, a força naval defende que os quatro militares destacados para o lago diariamente são suficientes. ¿Não existe nenhuma previsão de atividade especial a partir do que aconteceu¿, afirmou o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar.

Ao contrário do ano passado, quando duas irmãs perderam a vida em um naufrágio e a fiscalização foi intensificada, a ocorrência de um acidente ainda mais grave não vai significar qualquer reforço na área náutica de Brasília. Segundo Avelar, o efetivo do BPMA e do Corpo de Bombeiros seguirá sem alterações na fiscalização. Assim, o zelo pelo local fica a cargo, em dias úteis, de 11 homens: os quatro da Marinha mais sete do BPMA. Aos fins de semana, a força naval pode deslocar até 15 (leia quadro). Esse grupo garante a segurança nos 48 quilômetros quadrados de lago ¿ ou 6,4 mil campos de futebol. Com quatro homens por turno, significa que cada fiscal monitora uma área equivalente a 1,6 mil campos.

Especialista ouvido pelo Correio acredita que há a necessidade para mais profissionais atuando no Paranoá, que abriga 110 quilômetros de margem. ¿Ter esse número de pessoas para quase 2 mil embarcações é insuficiente¿, avalia o especialista em hidrovias e portos da Universidade Federal do Pará, o engenheiro naval Hito Braga de Moraes. ¿No mínimo, um aumento no policiamento inibiria as irregularidades¿, acrescentou.

Para ele, é preciso estudar o uso feito do lago pelos vários tipos de barcos para determinar um contingente adequado de fiscalização. Ele reconhece, no entanto, que acidentes como o do Imagination não seriam evitados mesmo que o número fosse três vezes maior. ¿Acontecimentos assim são raros e ocorrem por um conjunto de fatores. E mais policiamento ajuda como nas estradas: inibe irregularidades, mas não significa que não ocorram tragédias¿, avaliou.

Atribuições O GDF colocou-se à disposição da Marinha para ajudar com equipamento e pessoal. ¿Podemos disponibilizar a organização dos locais de embarcação, a parte de infraestrutura, a logística e o controle das listas de passageiros, além de ajudar a dar condições para que a Marinha esteja presente de forma rotineira para fazer as inspeções¿, afirmou o governador Agnelo Queiroz. Mas, como a área náutica é de responsabilidade da Marinha, para evitar constrangimentos, o governo condicionou a ajuda a um pedido da instituição.

A Marinha adiantou que não deve pedir mais ajuda do GDF por entender que o auxílio existe por meio das corporações locais. Acrescentou ainda que uma maior cooperação ocorreria caso houvesse aumento no contingente do Corpo de Bombeiros e do BPMA no lago. O cabo Edmar Sá, do BPMA, atesta que todos atuam de maneira integrada na defesa da área náutica. ¿A interação significa que, quando a PM vê uma embarcação sem documento, leva à delegacia fluvial (da Marinha) ou chama uma patrulha deles. Já se a Marinha flagra alguém conduzindo alcoolizado, chama a PM¿, explicou.

Há estudos, no entanto, para aumentar a quantidade de fiscais da Marinha no Lago. Os militares pretendem transformar a delegacia fluvial em uma capitania, o que vai significar mais barcos e a ampliação do número de funcionários.

Competências Três corporações atuam no Lago Paranoá com atribuições distintas. Confira:

» Polícia Militar Ambiental ¿ Sete homens se dividem em turno de 24 horas. A unidade conta com seis jet skis, dois em funcionamento, um bote inflável e uma lancha. Fazem policiamento para inibir a ocorrência de crimes, desde alcoolemia até festas com adolescentes em embarcações.

» Corpo de Bombeiros ¿ São oito homens por turno de 24 horas no Grupamento de Busca e Salvamento. Contam com uma lancha e um pequeno bote a motor. Atuam em casos de afogamento, colisão de embarcações, incêndios e demais emergências, além de operações de busca, como a do Imagination.

» Marinha ¿ Há quatro fiscais por dia durante a semana, com oito embarcações disponíveis. Aos fins de semana, o número pode aumentar para 15, dependendo do planejamento da Delegacia Fluvial. São responsáveis pela fiscalização do lago, zelando pela regularidade e a segurança das embarcações, além da habilitação dos motoristas.