Título: É hora de fazer oposição
Autor: Iunes, Ivan ; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2011, Política, p. 6

Depois de anunciar o cessar-fogo dentro do próprio partido, o PSDB estuda agora como aproveitar a maré negativa no governo federal e abrir espaço para a oposição. Na reunião de ontem, foi do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso o alerta de que os tucanos precisam partir para o ataque de forma mais efetiva, sem dar tempo para o adversário fechar as feridas. Nas conversas, a cúpula da legenda avaliou que o cenário é favorável, já que a presidente Dilma Rousseff está sendo obrigada a enfrentar o primeiro desgaste ainda no início do governo, situação não vivida por seus antecessores.

Os discursos feitos durante a convenção mostraram que, se a legenda não havia encontrado ainda o caminho para atacar o Planalto, o próprio comando governista se encarregou de dar a eles a munição necessária. ¿Está acontecendo o que a gente já avisava na campanha: a pessoa que foi eleita não governa e quem não tem mandato é quem está comandando¿, disse José Serra, em uma referência às aparições do ex-presidente Lula para ajudar a resolver a crise no Executivo. ¿Temos um governo negligente, omisso e que agora já começa a navegar nas águas da corrupção¿, completou.

Rumos No papel de técnico do time que andava sem rumo, FHC listou os caminhos que devem ser adotados pelos tucanos. Citou a paralisação de obras, os atrasos na infraestrutura dos aeroportos com vistas à Copa do Mundo de 2014, a polêmica e o alto custo do projeto de construção do trem de alta velocidade e o desperdício nas obras de transposição do Rio São Francisco. Segundo ele, apesar de já terem consumido mais de R$ 400 milhões, estão longe de serem concluídas.

¿Não somos contra a transposição. O que não vamos ignorar é o desperdício de dinheiro no canal do sertão. Afinal, apesar dos gastos, a água não está correndo.¿ O ex-presidente afirmou que a falta de infraestrutura para a Copa e as Olimpíadas vai beneficiar construtoras mal- intencionadas, já que tudo será feito às pressas e sem a fiscalização necessária. ¿Levaram oito anos sem fazer obras estruturais. Agora, às vésperas dos eventos esportivos, vão fazê-las. Será um penduricalho aqui, um penduricalho ali. Tudo para enganar o povo¿, disse.

DEM O jogo que os tucanos ensaiaram iniciar ontem contra o governo ganhou o reforço do DEM. Fragilizada e reduzida, a legenda tem na união com o PSDB a esperança de ganhar espaço político e força para confrontar o Executivo. O presidente da legenda, senador José Agripino Maia (RN), afirmou que a oposição está unida porque tem afinidades. O que, segundo ele, não ocorre ¿do outro lado¿, onde ¿não há afinidades políticas, éticas ou ideológicas¿. ¿Vamos ficar unidos para mostrar essa grande fraude que é o governo Dilma Rousseff. Eles não possuem nenhuma consideração pelo povo¿, concluiu o presidente reeleito da legenda, senador Sérgio Guerra (PE).