Título: México quer apoio de Dilma
Autor: Ribas, Sílvio ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 01/06/2011, Economia, p. 13

O presidente do México, Felipe Calderón, pediu ontem o apoio da presidente Dilma Rousseff para a candidatura de Agustín Carstens ao cargo de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Carstens, que comanda o Banco Central mexicano, chega hoje a Brasília, onde se reunirá com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, repetindo o gesto da sua concorrente ao posto, a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde. Segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, Rodrigo Baena, Dilma não se comprometeu. Ela disse que vai aguardar o cenário da sucessão se completar para se pronunciar ¿ os pretendentes podem se apresentar até o dia 10.

Ainda de acordo com Baena, no telefonema com Calderón, Dilma considerou positiva a candidatura de Carstens, pois ela permite uma ¿maior exposição de ideias e de propostas¿. A presidente afirmou ser ¿muito importante¿ assegurar que a escolha do sucessor de Dominique Strauss-Kahn, que renunciou após ser preso por tentativa de estupro, seja feita independentemente de nacionalidades. Na avaliação dela, o critério para a eleição do novo número um do Fundo deve ser o mérito.

Mesmo que o pedido de Calderón seja atendido, a sucessão no Fundo está definida. A tradição deve ser mantida e a chefia continuará em mãos europeias, mais especificamente nas de Lagarde. Apesar do protesto dos países emergentes, que cobram mais espaço no FMI, vai prevalecer o critério estabelecido desde a criação dos organismos multilaterais de crédito pelo acordo de Bretton Woods (1944). Pela regra, um norte-americano deve comandar o Banco Mundial (Bird) e um europeu, o Fundo.

A provável escolha de Lagarde reflete também a falta de coordenação entre os grandes países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China, e o momento crucial vivido pela Zona do Euro, que depende, como nunca, de socorro financeiro. Segundo analistas, a visita da candidata favorita ao país foi apenas protocolar e só confirma a dificuldade dos emergentes em costurar posições comuns.

¿A lógica seria o FMI atuar como organismo internacional, com um processo sucessório mais aberto¿, avalia Argemiro Procópio, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Ele explica que o comando continuará com a Europa até para fazer frente às atuais mazelas do continente. ¿Acostumado a apagar incêndios nas finanças da América Latina, da Ásia e da Rússia, o organismo hoje tem como principal missão salvar novatos como Grécia, Portugal e Irlanda.¿ Cerca de 80% dos atuais créditos do Fundo foram concedidos a países europeus.

Procópio ressalta que ¿a candidata tirada do bolso europeu¿, anunciada logo após a renúncia do também francês Strauss-Kahn, em 19 de maio, terá pela frente a mais dura missão da história do FMI. ¿Conforme evoluir o colapso econômico dos sócios da Eurozona, pode faltar fundos ao Fundo¿, brinca.

Depois de passar pelo Brasil, Carstens vai à Argentina, China e Índia. ¿Essa movimentação é exclusiva do México e não dos emergentes, que têm interesses muitas vezes antagônicos. A decisão sucessória do Fundo continua sendo definida por seus maiores contribuintes, Europa e EUA¿, afirma Raphael Martello, da Tendências Consultoria. Muito antes de pedir apoio Mantega, a própria Lagarde havia declarado que ¿manda quem paga¿.

Segundo escalão A estrutura de poder no FMI é baseada na soma de contribuições dos sócios. A Europa tem 32% dos votos, seguida dos Estados Unidos (16,7%). Com pouco mais de 1%, o Brasil está longe de influir nas decisões e também não figura como líder dos Brics, grupo que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul. Resta aos emergentes, que brigam por vagas no segundo escalão, torcer para que as reformas iniciadas por Dominique Strauss-Kahn continuem com Christine Lagarde.