Título: Dia de caos
Autor: D,Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2011, Economia, p. 12

Menos de 24 horas após o anúncio da privatização dos aeroportos de Brasília, de Guarulhos (São Paulo) e de Viracopos (Campinas), dezenas de passageiros viveram ontem um dia de caos e de muita espera para chegar ao destino. Por causa de uma forte neblina, o terminal de Cumbica, em Guarulhos, o maior do país, ficou fechado para pousos durante sete horas, das 4h às 9h30. As decolagens foram permitidas. Em Congonhas, na capital paulista, os pousos foram suspensos entre 6h55 e 7h30. Com isso, num efeito dominó, houve atraso de voos em todo o país.

O Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, também suspendeu os pousos entre 7h20 e 9h por causa de um forte nevoeiro. Somente em Guarulhos, 39 voos foram desviados da rota e pousaram nos aeroportos do Galeão, no Rio; Confins, em Belo Horizonte, além dos de Campinas, de Brasília e de Goiânia. Desses, 27 eram internacionais. Os passageiros de seis aviões vindos de Houston, Miami, Dallas, Nova York e Newark (Estados Unidos) e de Lima (Peru) tiveram de pousar no Aeroporto de Brasília e esperar mais de quatro horas dentro da aeronave.

Pior para os passageiros do voo 0085 vindo de Bogotá (Colômbia), que também desceria em Guarulhos na manhã de ontem. Eles amargaram sete horas, de 6h35 a 13h29, dentro da aeronave no terminal de Viracopos, em Campinas, para onde a aeronave foi desviada.

A Avianca, companhia responsável pelo voo, respondeu que o procedimento de espera dos passageiros no avião é uma norma internacional. Quem já passou por isso sabe o infortúnio dessa espera sem que seja servido alimento e bebida para despistar a fome.

De acordo com a assessoria de comunicação de Viracopos, a decisão de permanência ou não dos passageiros dentro da aeronave é da companhia. Passaram por Viracopos ontem 14 voos internacionais e domésticos que não puderam pousar no horário em Guarulhos.

O presidente da Associação Nacional de Concessionárias de Aeroportos Brasileiros (Ancab), brigadeiro Mauro Gandra, ex-ministro da Aeronáutica, afirmou que é preciso conviver com esses atrasos por causa do mau tempo, o que ocorre no mundo todo, mas considera absurda a permanência de passageiros por horas a fio dentro de aeronave, sem que possam descer. Segundo ele, isso ocorre porque nos aeroportos não existe uma autoridade aeroportuária, a qual possam se reportar os responsáveis por órgãos, como Polícia Federal, Receita Federal e mesmo a Infraero, além das próprias companhias. ¿Cada um dá seu pitaco, e o passageiro é que fica prejudicado¿, disse.

Permanência Para Gandra, o maior problema do sistema aeroportuário não é o tráfego aéreo, mas o tempo de permanência da aeronaves em solo, nas pontes de embarque, a falta de integração entre os agentes dos aeroportos e a operacionalidade das companhias aéreas. ¿Não há área suficiente para que os aviões desçam e subam mais rapidamente. ¿É preciso aumentar a área dos pátios e das saídas¿, disse. Quando ocorrem nevoeiros e neblina, a situação fica pior.

Outro problema, afirma, é a qualidade do atendimento das empresas. ¿É comum ver terminais com vários balcões de check-in vazios e outros com filas quilométricas. As companhias não colocam um número suficiente de funcionários¿, constatou.

Gandra lembra que o sistema aéreo está confuso no mundo todo, com o aumento da demanda. No Brasil, houve uma explosão da procura por causa da melhoria da economia e da renda dos brasileiros, mas houve incapacidade do governo de antecipar esse fato. Segundo ele, a politização da Infraero, com a indicação de um deputado (Carlos Wilson, do PMDB, no primeiro mandato do governo Lula) para sua chefia e o loteamento de cargos entre apadrinhados de políticos, prejudicou a gestão do órgão e, consequentemente, dos aeroportos.

Perspectiva O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, deve assinar, na próxima semana, o contrato das obras de reforma e modernização do Aeroporto de Confins (MG). Ele admitiu que as obras são necessárias porque alguns aeroportos já atuam acima da capacidade. Dados da estatal mostram que a demanda dos passageiros cresceu mais de 12% por ano entre 2007 e 2010 e a perspectiva é de que continue se expandindo a10,5% anuais até 2016. Um dos terminais em situação preocupante é o de Brasília, cuja expectativa é de um crescimento de 10,44% por ano até 2014. Entre as medidas adotadas para minimizar o problema, estão a inauguração do Terminal 2 no fim do ano passado, mas ainda insuficiente.