Título: Brasil quer um cargo na diretoria do FMI
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2011, Economia, p. 14

O Brasil quer recuperar uma cadeira na vice-diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI) e marcar presença nas chefias de departamento. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi taxativo ao dizer que não somente o Brasil, mas todas as nações emergentes precisam ser mais bem representadas dentro da instituição que fiscaliza as políticas macroeconômicas de seus 187 membros.

¿Existe uma sub-representação dos países emergentes de modo geral e, particularmente, da América Latina. Queremos sim uma participação maior dos cargos de direção do Fundo Monetário, porque isso daria um protagonismo maior dos emergentes e dos latino-americanos¿, afirmou o ministro brasileiro após reunir-se com o candidato mexicano à vaga de diretor-gerente do FMI, Agustín Carstens.

Mantega negou que esteja negociando cargos pelo voto do Brasil. ¿Não há nenhuma combinação reservada que esteja sendo feita. Estamos colocando em cima da mesa nossas pretensões, os compromissos que nós queremos que sejam assumidos para que a nossa decisão seja embasada neles¿, completou. Desde janeiro, o Brasil não tem um representante na vice-diretoria do FMI, que era ocupada pelo economista Murilo Portugal, então considerado o número três do Fundo.

O ministro reiterou que a escolha do Brasil para o substituto de Dominique Strauss-Kahn no comando do organismo dependerá do compromisso que o candidato assumir em relação às reformas recentes, ampliando a participação e o peso dos emergentes. Strauss-Kahn renunciou em 19 de maio, em meio a acusações de estupro e cárcere privado de uma camareira de hotel em Nova York.

¿O FMI não pode retroceder. Ele tem que estar afinado e acelerar as reformas já acordadas para ampliar a participação acionária dos emergentes¿, afirmou Mantega. ¿O Fundo não pode voltar a ser o que era antes. Ele tem que ser um espelho do G-20 (bloco das principais economias desenvolvidas e emergentes do globo).¿

De acordo com o ministro, o posicionamento do Fundo diante das questões econômicas também é importante, mas o fundamental é que a reforma tenha prosseguimento. ¿O Fundo tem avançado muito em suas políticas, como apoiar medidas expansionistas durante a crise e permitir a países como o Brasil ampliar as reservas em moeda estrangeiras¿, completou.

O ministro brasileiro destacou o simbolismo da candidatura da Carstens ¿ desde a sua criação em 1945, o FMI sempre foi comandando por um europeu. ¿Seria um grande avanço se a escolha se desse pelo mérito do candidato e não pela sua nacionalidade. É esse um princípio que estamos defendendo¿, afirmou. ¿Para nós, é importante que o candidato tenha qualificação técnica e experiência na direção da economia mundial e Carstens tem essa experiência.¿

Atual presidente do Banco Central do México, Carstens já foi ministro da Fazenda do país e vice-diretor-geral do Fundo. Ele veio ao Brasil dois dias depois de a candidata francesa para o Fundo, Christine Lagarde, ter se reunido com Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Ministra das Finanças da França, Lagarde é a escolhida pelos países desenvolvidos e deve vencer a eleição.

Reconhecimento O mexicano quer o apoio dos países emergentes. Hoje, ele se reúne com Tombini, em São Paulo. Depois parte para Argentina, China e Índia, buscando apoio. Ele está otimista e espera que a maioria dos países se pronuncie apenas em 10 de junho, prazo final para a apresentação das candidaturas. ¿Vim expressar minha coincidência em todos os pontos que o ministro Mantega acaba de expressar. Os países emergentes ganharam reconhecimento na instituição. Sem dúvida, o tema de representação no Fundo é vital e a América Latina e o México precisam de mais cargos médios e altos na instituição¿, afirmou ao lado de Mantega.