Título: PIB sobe 1,2% no trimestre
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2011, Economia, p. 16

Apesar de ter mantido um ritmo acelerado no primeiro trimestre deste ano, a expansão econômica do país deve ficar muito aquém do superaquecimento observado em 2010. A aposta da maioria dos analistas, e também do Banco Central, é de que o Brasil avançou 1,2% no período. Se confirmado amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e mantido no mesmo patamar até o fim do ano, o incremento do Produto Interno Bruto (PIB) não passará de 4,9%. Entre janeiro e março, o crescimento foi sustentado pelo consumo das famílias e pelo bom desempenho da indústria e dos investimentos, segundo economistas ouvidos pelo Correio. Para eles, apesar da estimativa de desaceleração para os próximos meses, o resultado foi positivo.

¿Se a gente lembrar que houve uma perda de fôlego no segundo semestre do ano passado, os três primeiros meses surpreenderam positivamente¿, avaliou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. Ele, assim como parte do mercado, elevou sua projeção para o primeiro trimestre, baseado principalmente em dados do varejo e da indústria. O comércio acumulou alta de 6,9% nas vendas e de 11,6% nas receitas até março. Já o setor produtivo ampliou em 1,3% a produção no período. Apesar de um desempenho inferior, esse foi o primeiro avanço após dois trimestres de estagnação.

Constantin Jancso, economista do HSBC, também lembrou que a participação do segmento de serviços no início do ano foi expressiva, o que deve levar o PIB, segundo sua avaliação, a registrar aumento de 4,7% no ano, mesmo com todas as ações implementadas para frear o crescimento do país. ¿Aquelas medidas adotadas pelo Banco Central com o objetivo de encarecer o crédito e diminuir os prazos tiveram algum impacto na indústria automotiva, mas nada dramático¿, disse. Na visão de Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, os dados que antecedem a divulgação do IBGE evidenciam que a economia não perdeu força neste início de ano. ¿Para nós, o crescimento de quase 1,5% esperado para o PIB do primeiro trimestre tende a reforçar a percepção de que a economia não está desacelerando, mesmo após as tentativas do BC de conter o consumo¿, destacou.

Os investimentos também foram destaque na avaliação dos especialistas. O Itaú Unibanco projetou que eles cresceram 3,3% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, concordou com a avaliação: ¿A formação bruta de capital fixo (investimentos) deve ter sido o pilar desse desempenho¿, afirmou.

Arrefecimento A estimativa do mercado é de que a bonança não se repita nos próximos meses, momento em que a economia vai entrar começar a andar mais devagar. Segundo o boletim Focus, publicação semanal no qual o BC coleta as estimativas de mais de 100 instituições, a projeção para o aumento do PIB está em 4%. Alguns analistas, entretanto, reduziram suas expectativas depois de o BC ter adotado medidas para conter o crédito e aumentado a taxa básica de juros (Selic) ¿, que passou de 10,75% em dezembro para 12% ao ano em abril. Para esses economistas, o crescimento deve ficar próximo de 3,5%.

A indústria foi a primeira a diminuir o ritmo, com queda de 2,1% no ritmo de produção em abril, de acordo com o IBGE. ¿A contenção das despesas fiscais, a diminuição das concessões de crédito (livre e direcionado) e os ajustes na taxa de juros devem contribuir para a desaceleração do PIB mensal¿, frisou Bicalho. ¿Espera-se uma desaceleração depois deste primeiro trimestre, mas o impacto será, sobretudo, no segundo semestre¿, explicou Rosa. Outro ponto fraco está no setor externo. ¿O comércio exterior deve continuar sendo um obstáculo para o crescimento, conforme as importações superam as exportações¿, avaliou Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa econômica para América Latina do BNP Paribas.