Título: Violência fora de controle
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Fonte: Correio Braziliense, 02/06/2011, Opinião, p. 20

De tão pífia, a segurança pública já não consegue intimidar minimamente a bandidagem no Distrito Federal. Crimes sucedem-se em velocidade aterradora, sem que as anunciadas reações das autoridades surtam efeito. Está aí o avanço do crack, com pontos de venda mapeados por este jornal em pleno Plano Piloto. Apesar de amplamente noticiado, traficantes e usuários continuam a se expor impunes no coração da capital. Está aí também a recente e assustadora frequência de ataques no Lago Sul, incluindo invasões de residências, o assassinato de um motorista e o sequestro de uma van escolar. Mais: no antes pacato Núcleo Bandeirante, nem um sargento da Força Nacional de Segurança (FNS) escapou: alvejado com um tiro na coluna, foi levado no próprio carro, jogado na rua e corre o risco de ficar tetraplégico.

Embora a maior parcela de responsabilidade sobre a onda de violência recaia sobre o GDF, a inércia atinge igualmente os governos federal e de Goiás. É que o cinturão de cidades goianas em volta de Brasília teve aumento populacional próximo dos 30% na última década, deve dobrar nos próximos cinco anos e os investimentos em saúde, educação, infraestrutura, transporte e segurança não acompanham o ritmo.

Promessas até são feitas. No começo de 2009, pacote de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de R$ 9 bilhões, foi lançado para a região. Dois anos depois, o morador do Entorno continua aguardando as melhorias. Governador pela terceira vez, Marconi Perillo (GO) apela à união dos entes federados para romper o marasmo. Mas os pactos também se repetem infrutíferos. Enquanto isso, dados oficiais registram índice de 19 assassinatos a cada 10 dias.

Está evidente o descompasso entre o discurso e a ação. Quando agem, os governos tomam medidas paliativas, de pouco ou nenhum efeito. É o caso, igualmente recorrente, da convocação da Força Nacional de Segurança. Em 2008, 140 homens atuaram em quatro das 22 cidades do Entorno. O efetivo deveria ser de 500, com cobertura completa da região. Agora a FNS está de volta, com apenas 70 militares e restrita a Luziânia e Águas Lindas. Maior e mais violento, o primeiro município se tornou tristemente famoso em 2010, com o assassinato em série de sete jovens. Voltou ao noticiário macabro este ano, com as mortes de um rapaz de 15 anos e uma moça de 17 que tiveram a garganta cortada. O segundo é, entre aqueles com mais de 10 mil habitantes no Brasil, o 55º em número de homicídios. E de janeiro a março últimos teve incremento superior a 70% em relação a igual período do ano passado.

Basta de violência e medo. Os mais abastados investem em segurança privada. Contratam vigilantes e mandam instalar cercas elétricas, câmaras, sensores de presença e outros produtos. Movimentam mercado bilionário que, estima-se, já alcança perto de um terço dos investimentos públicos do DF no setor. Mas nem assim estão seguros, como revela o crescimento da violência no Lago Sul, bairro brasiliense com maior renda per capita e melhor Índice de Desenvolvimento Humano. O que dizer, então, do cidadão desafortunado, sem condições de investir em proteção pessoal? Deixar que vire estatística em mãos criminosas? Parece ser o que espera o Estado.