Título: Guerra no quartel dos bombeiros
Autor: Álvares, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2011, Brasil, p. 10

A grave crise que se instalou no Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro após cerca de 2 mil pessoas invadirem o Quartel-General da corporação irritou o governador do estado, Sérgio Cabral (PMDB), que, no início da tarde de ontem, anunciou a exoneração do comandante-geral da corporação, Pedro Machado. Quem assume é o comandante da Defesa Civil fluminense, Sérgio Simões. Os manifestantes ¿ bombeiros acompanhados de familiares ¿ ocuparam o prédio na noite de sexta-feira e não chegaram a nenhum acordo sobre o reajuste salarial reivindicado durante as negociações, que se estenderam pela madrugada. No início da manhã, bombeiros e policiais militares se enfrentaram depois que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) e a Tropa de Choque da PM decidiram invadir o quartel. O confronto resultou na prisão de 439 manifestantes.

O início da manifestação não permitia prever que ela atingiria níveis de violência e conflitos tão abrangentes. O movimento começou com uma passeata, que saiu da Assembleia Legislativa e foi ao quartel, ambos no centro da cidade, e contou com a participação de cerca de 5 mil pessoas, segundo estimativa dos líderes. "A intenção inicial não era invadir. A decisão foi do Grupamento Marítimo, ala mais radical", destacou o presidente da Associação dos Bombeiros Militares do estado, Nilo Guerreiro. Os bombeiros espalharam faixas com pedidos de "socorro" para a categoria. Antes da entrada da polícia no local, parte dos cerca de 2 mil invasores fizeram um escudo humano com as mulheres presentes para impedir a entrada da cavalaria da Polícia Militar. Eles também utilizaram viaturas.

Após a invasão da polícia, que utilizou bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral, parte dos manifestantes foi detida. Ao chegarem à Corregedoria Interna da PM, em São Gonçalo, região metropolitana da capital, os presos foram levados a um campo de futebol, onde continuaram o protesto, colocando as mãos na cabeça, e formaram a palavra SOS no local.

Reação Em entrevista coletiva após uma reunião com a cúpula do governo estadual, Sérgio Cabral demonstrou irritação e criticou os invasores. "A polícia teve cautela enorme em todo o processo, diante de um quadro dantesco, jamais visto na instituição. Eu não negocio com vândalos", disse o governador. "Esse grupo de vândalos irresponsáveis não irá, de forma alguma, prejudicar a imagem de uma instituição tão respeitada e querida pelo povo do estado do Rio de Janeiro", acrescentou Cabral, ressaltando que, durante sua gestão, cerca de R$ 120 milhões foram investidos em melhorias na estrutura da corporação. "Tratamos de fazer uma política de recuperação salarial que, se não é a ideal, deixou de ser o que alguns cartazes desses amotinados irresponsáveis dizem ser o pior do Brasil, o que não é verdade." Na tarde de ontem, os próprios bombeiros começaram a reparar os estragos feitos durante a ocupação.