Título: Hollywood mira lucros no Brasil
Autor: Braga, Gustavo Henrique ; Moraes, Felipe
Fonte: Correio Braziliense, 05/06/2011, Economia, p. 17

Mercado estratégico para as multinacionais do setor produtivo, de onde muitas delas têm retirado o grosso de seus lucros, o Brasil está quebrando barreiras até em Hollywood, ávida por tirar proveito do forte potencial de crescimento do país. Se até bem pouco tempo o máximo de estrangeiros que a indústria de cinema norte-americana permitia em seus filmes eram atores das ricas nações da Europa, agora, a estratégia é atrair estrelas dos países emergentes. Motivo: dar identidade mais local às películas e, por tabela, ampliar o faturamento onde o consumo por cultura cresce a taxas de dois dígitos.

Apontando como um dos mais talentosos atores brasileiros da atualidade, Wagner Moura se tornou um dos alvos dos estúdios de Hollywood. Com interpretações marcantes como o capitão Nascimento nos dois Tropa de Elite, ele será o vilão do filme Elysium, ficção científica na qual contracenará como Jodie Foster e Matt Damon. Dirigida por Neill Blomkamp, de Distrito 9, a fita terá ainda a participação de Alice Braga, que já estrelou Eu sou a Lenda ao lado de Will Smith. Alice, por sinal, é sobrinha de Sônia Braga, uma das poucas atrizes nacionais que conseguiu romper o cerco da indústria cinematográfica norte-americana. Diretor de Tropa de Elite, José Padilha comandará as refilmagens de Robocop.

O interesse pelo Brasil vai além. Superproduções estão escolhendo o país como locação para filmagens. E os resultados são surpreendentes. Entre os cinco filmes mais vistos nos Estados Unidos na atualidade, dois retratam cenas no Rio de Janeiro: Velozes e furiosos 5 e a animação Rio. O próximo a exibir cenas cariocas será a saga Crepúsculo, sucesso de bilheteria entre o público adolescente. E mais: o diretor e produtor Wood Allen já anunciou o interesse em aproveitar os encantos da Cidade Maravilhosa em sua próxima película.

Rentabilidade Os números reforçam o interesse dos norte-americanos pelo mercado brasileiro. Somente no ano passado, foram vendidos 134,3 milhões de ingressos nos cinemas do país. O faturamento chegou a R$ 1,2 bilhão, 29,57% a mais do que em 2009. Entre os filmes nacionais, cinco quebraram a barreira de 1 milhão de espectadores e contribuíram para tornar o período o melhor desde 1982. O público do cinema nacional foi de 25,2 milhões de pessoas, com incremento de 57%. Com isso, a participação das películas brasileiras no bolo total de ingressos fechou 2010 em 19%, desempenho sem precedentes desde 2003.

¿Viemos para o Brasil porque o país é importante para a indústria do cinema, não apenas pelo cenário¿, diz o produtor Neal H. Moritz, de Velozes e furiosos 5.Que acrescenta: ¿O Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, já é um dos 10 mercados preferenciais de Hollywood fora dos Estados Unidos. Velozes 5 expõe um lado violento da cidade, mas, para Moritz, isso não prejudica o interesse das pessoas em fazer turismo na região.

Na visão dos empresários, Hollywood não pode fechar os olhos ao forte incremento da renda no Brasil, onde pelo menos 30 milhões de pessoas foram agregadas à classe média e ao mercado de consumo nos últimos oito anos, ávidas por novidade ¿ entre elas, o cinema. Dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) mostram que o Brasil tem apenas 2.206 salas de exibição, ou seja, uma para cada 80 mil habitantes. Metade desses pontos está concentrada apenas no eixo Rio-São Paulo, enquanto todo o estado de Tocantins tem apenas três salas.

Números tão baixos de exibidores, aliados a resultados expressivos de rentabilidade, demonstram o potencial de crescimento do mercado audiovisual brasileiro, ao mesmo tempo em que, nos Estados Unidos e na Europa, o setor está saturado e já não há mais para onde crescer. Somente de 2009 para 2010, o país inaugurou 96 salas de cinema e a tendência é de esse número continuar crescendo, não por políticas de incentivo à cultura, mas por meio do patrocínio de grandes estúdios internacionais na construção de postos de exibição para, dessa forma, venderem seus produtos aos brasileiros.

Marcos Didonet, produtor e sócio da Total Filmes, atribui os bons ventos a um conjunto de fatores. ¿Em primeiro lugar, há um empenho do setor para atrair investimentos. Além disso, o cinema acompanha o que ocorre nos outros segmentos. O Brasil entrou de vez no circuito mundial em vários setores da economia¿, diz. No seu entender, o país tem muito a ganhar com a coparticipação de filmes de Hollywoood. ¿Os investimentos estrangeiros representam mais empregos e impostos para o Brasil, além de melhorar a imagem dos filmes brasileiros lá fora¿, conclui.