Título: PT mira em três cargos
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2011, Política, p. 3

Em público, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, tem tido algum apoio do PT, ressalvadas as cobranças por mais explicações. Mas, nas reuniões internas, os petistas começam a pregar uma reformulação geral na coordenação política do governo ¿ inclusive na Casa Civil ¿ para evitar que o PMDB ou outro aliado acabe por tomar algum assento importante nesse setor. Internamente, há quem diga que um dos problemas de Palocci hoje são os grupos do PT de olho em três cargos: Casa Civil, Ministério de Relações Institucionais e a própria liderança do governo na Câmara ¿ os postos que a legenda conseguiu segurar.

Na última quarta-feira, um grupo de petistas da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB) se reuniu em Brasília para avaliar a situação e mencionou os riscos de perder espaço conquistado a duras penas. Concluiu que, se algo não for feito logo, o governo acabará refém do PMDB. A ideia do grupo, antes do enfraquecimento de Palocci, era esperar que o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ganhasse musculatura para servir de contraponto aos peemedebistas na correlação de forças. Mas agora, diante da crise que se abateu sobre o principal ministro do governo, não dá mais para esperar esse quadro.

Em reuniões mais fechadas, em que participam, entre outros, os deputados André Vargas (PR) e José Guimarães (CE) e o líder no Senado, Humberto Costa (PE), a avaliação do CNB é a de que o partido tem que manter a linha dizendo que o ministro vai se explicar, mas deve também se preparar para mudar toda a articulação política. O maior temor da tendência hoje é perder a Secretaria de Relações Institucionais, sob o comando de Luiz Sérgio (RJ), um ministro que eles fizeram a duras penas.

O nome cogitado para o cargo em dezembro foi o de Cândido Vaccarezza, líder do governo. Ele acabou perdendo a indicação porque o CNB não abriu mão do posto. Vaccarezza ficou no Congresso e Luiz Sérgio seguiu para o governo. O deputado fluminense, entretanto, não é visto como alguém que tenha pulso para lidar com os congressistas.

Acordo Diante desses e de outros problemas, os petistas começaram a acenar com a hipótese de André Vargas assumir o lugar de Luiz Sérgio, uma vez que tem mais trânsito entre os parlamentares. Ou, para apaziguar o PT, tirar Vaccarezza da liderança, transferindo-o para o governo e selando um acordo que desse a alguém do CNB a liderança do governo, no caso, Vargas.

Na raia da Casa Civil, quem começou se mobilizar foi o ministro de Comunicações, Paulo Bernardo. Desde que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro, perguntou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por que Palocci não saía do cargo, ficou cristalizado entre alguns petistas que seu marido estava em campanha para o cargo. Afinal, na mesma semana, Bernardo esteve no Congresso para conversar com o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) sobre mudanças na Lei de Radiodifusão. Há quem tenha visto a visita como parte do trabalho acrescida de uma pitada de campanha.