Título: Consumidor pisa no freio
Autor: Martins, Victor ; Monteiro,Fàbio
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2011, Economia, p. 13

Especial para o Correio

Depois de aproveitarem o incremento da renda e avançar todos os sinais do consumo, as famílias brasileiras, enfim, botaram o pé no freio, devido à inflação e ao elevado nível de endividamento. Atolada no cheque especial em cerca de R$ 20 bilhões e com o orçamento cada vez mais apertado pela escalada de preços, a população já está tirando produtos básicos do carrinho de supermercado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre de 2011, as despesas dos lares brasileiros avançaram apenas 0,6%, ante o crescimento de 2,3% no fim do ano passado. Foi o pior desempenho desde os últimos três meses de 2008, auge da crise financeira mundial, quando o consumo das famílias caiu 1,9%.

Além da disparada da inflação, o resultado sinaliza os primeiros efeitos das ações tomadas pelo governo para restringir o ímpeto dos compradores, segundo Rebeca de La Rocque Palis, técnica do IBGE. ¿A taxa reflete as medidas macroprudenciais implementadas pelo Banco Central desde dezembro do ano passado e o aumento dos juros. Elas afetaram, principalmente, os setores que dependem do crédito. Além disso, a massa salarial real e o rendimento real dos trabalhadores cresceram menos¿, justificou.

Apesar do tímido aumento, as famílias gastaram entre janeiro e março R$ 595,4 bilhões e representaram a maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país), cerca de 60,6% do total. Esse número, porém, já foi maior. Em 2000 representava 64,3%. Para o economista Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o incremento menor do consumo dos lares foi influenciado por três aspectos do cenário econômico atual: o encarecimento do crédito, a inflação e a base de comparação anterior, quando ninguém pensou duas vezes antes de ir às compras. ¿Desses três fatores, acho que os juros mais altos foram os principais responsáveis pelo pé no freio¿, avaliou.

Um bom exemplo da diminuição nos gastos familiares é o da servidora pública Tânia Regina Vieira, 48 anos. Em sua casa, itens que antes eram garantidos na mesa foram substituídos por produtos mais baratos. Outros, precisaram ser cortados. Mesmo as vontades da filha Luíza, 5, estão sendo restringidas. ¿Ela adora maçã, mas está muito cara. Então, estou preferindo não comprar¿, lamentou. Para a servidora, com os preços nas alturas, não há muito o que ser feito, a não ser tirar produtos do carrinho do supermercado. ¿Não podemos parar de comer. E a compra de alimentos é o que mais pesa no fim do mês. Os combustíveis também estão caros. Eu nunca encho o tanque, geralmente coloco de R$ 10 em R$ 10¿, revelou.

Cesta básica mais cara A cesta básica ficou mais cara em 12 capitais brasileiras em maio, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A alta foi influenciada pelo encarecimento do tomate e da batata. Os maiores avanços foram registrados no Recife (2,79%), em Fortaleza (2,54%), no Rio de Janeiro (1,90%), em Vitória (1,75%), São Paulo (1,66%), Goiânia (1,34%) e Florianópolis (1,02%). Cinco cidades, em contrapartida, apresentaram queda no preço médio. De acordo com o instituto, a capital paulistana continua a ter a cesta mais cara, ao custo de R$ 272. Em Brasília, o pacote de produtos pesquisados ficou em R$ 248,93. (GC)