Título: Gasto do governo infla resultado
Autor: D"angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2011, Economia, p. 17

Para frear os gastos das famílias brasileiras e conter a inflação, o governo federal adotou desde o início do ano medidas para dificultar o crédito, além de aumentar as taxas de juros. Com isso, os trabalhadores viram suas dívidas ficarem mais caras e consumiram em ritmo menor no primeiro trimestre deste ano. Mas o governo não fez o mesmo com suas próprias contas. Enquanto o consumo das famílias aumentou 0,6% em relação ao último trimestre de 2010, os governos federal, estadual e municipal gastaram 0,8% a mais com vencimentos do funcionalismo, materiais, serviços e obras para funcionamento das repartições públicas no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado.

O desempenho do governo na hora de gastar chamou a atenção dos analistas. ¿A contribuição do governo no PIB não parece estar ajudando muito a política monetária do Banco Central, para controlar a inflação¿, afirmou o estrategista-chefe do Banco WestLB no Brasil. É que com o PIB ainda demonstrando força, novas elevações da taxa de juros podem ser necessárias. ¿Considerando o ajuste fiscal necessário, o consumo do governo deveria vir menor¿, afirmou Padovani.

Na fila O ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou o crescimento dos gastos do governo, alegando que ¿estão crescendo abaixo da variação do PIB (que foi de 1,3%), o que é muito importante¿. Mas pretende colocar freio em novos aumentos da folha do funcionalismo, após autorizar reajustes que elevaram os salários em mais de 100% para diversas categorias do Executivo federal desde 2008. Os servidores do Judiciário estão na fila, reivindicando aumento de 56% em média.

A aceleração nos gastos públicos entre janeiro e março de 2011 para custeio da máquina é confirmada quando se compara o crescimento da chamada despesa de consumo do governo, que integra o cálculo do Produto Interno Bruto, em relação ao mesmo período de 2010, quando a alta foi de 2,1%. No caso do último trimestre de 2010, o crescimento tinha sido menor, de 1,2% sobre o mesmo período de 2009.

Gerenciamento O preocupante é que todos os componentes da demanda que integram o PIB ¿ consumo das famílias, investimentos, exportação e importação de bens e serviços ¿ diminuíram o ritmo de crescimento neste início do ano. O consumo das famílias, por exemplo, cresceu 5,9% em relação ao primeiro trimestre de 2010, contra alta de 7,5% nos últimos três meses do governo Lula frente ao mesmo período de 2009. O mesmo aconteceu com os investimentos, com elevação de 8,8% neste ano frente a crescimento maior, de 12,3%, ocorrido no último trimestre de 2010 sobre os últimos meses de 2009. Só as despesas do governo apresentaram percentual maior na comparação desses trimestres.

Roberto Padovani, do Banco WestL, lembra que, para contornar a crise internacional iniciada em 2008, o governo abriu os cofres públicos para estimular a economia. Em 2009, a administração pública aumentou a fatia do PIB referente aos gastos públicos, mas não os reduziu na mesma velocidade, diz. A participação permanece praticamente nos mesmos percentuais. O que temos observado é que, desde a retomada econômica, o governo não voltou aos patamares anteriores de gastos com custeio¿, afirmou Padovani.

¿O governo só faz contenção temporária na boca do caixa ao postergar algumas despesas. Mas seria bom que aumentasse a qualidade dos serviços e melhorasse sua eficiência, diminuindo os gastos. Na verdade, precisamos de capacidade gerencial do Estado¿, afirmou o economista Fernando de Holanda Barbosa, professor da Fundação Getulio Vargas. ¿Mas não é tradição do governo brasileiro atuar na eficiência do Estado e fazer com que as despesas diminuam e a qualidade dos serviços aumentem.¿