Título: A ordem é esperar
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2011, Política, p. 4

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), deve aceitar o pedido da bancada governista para anular a votação do requerimento de convocação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. O parlamentar indicou ontem que está inclinado a respeitar o que chama de ¿desejo expresso pela maioria¿ dos deputados da Comissão de Agricultura e Pecuária, de não convocar o ministro. A estratégia é de que o pronunciamento público preparado por Palocci esvazie as pressões para que ele vá à Casa. A decisão final de Maia está marcada para terça-feira.

Depois de receber o indicativo de que Palocci prestaria esclarecimentos públicos sobre a evolução do seu patrimônio em 20 vezes nos últimos quatro anos, os petistas decidiram diminuir a pressão sobre o ministro da Casa Civil e adotaram discurso de cautela. A informação de que ele atenderia aos apelos da própria bancada para dar explicações à sociedade foi transmitida à Executiva do partido em reunião na tarde de ontem pelo presidente da legenda, Rui Falcão. Somente após a declaração formal de Palocci o partido avaliará se pede ou não explicações adicionais sobre a atuação empresarial do ministro, à época em que era deputado federal, entre 2006 e 2010.

Logo no início da reunião da Executiva, a avaliação geral de senadores e deputados petistas era de que passava da hora de Palocci vir à público explicar as suspeitas que pairam sobre sua evolução patrimonial. Os parlamentares entendem que o desgaste à própria bancada e ao governo, gerado pelo silêncio do ministro, ultrapassava o provocado por uma possível manifestação pública dele ¿ e poucos permaneciam dispostos a bancar essa conta. ¿Ele precisa vir a público para dar explicações, enfrentar cara a cara¿, pediu o senador Wellington Dias (PT-PI).

Para amenizar o desconforto na bancada, o próprio Palocci fez chegar aos ouvidos da Executiva petista a informação de que daria explicações públicas, não necessariamente hoje. Com o aceno da Casa Civil, os parlamentares unificaram o discurso de só se pronunciar depois dos esclarecimentos. ¿Tomamos conhecimento de que ele avaliou duas circunstâncias. Além da nota e das explicações, ele enviou informações adicionais à PGR (Procuradoria-Geral da República) e ainda disse que se explicará na imprensa¿, anunciou Rui Falcão. Diante do posicionamento do Palácio do Planalto, o PT decidiu ainda não emitir nota sobre o caso. ¿Uma nota sem a totalidade das informações não ajudaria¿, explicou o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP).

Desgaste A movimentação de Palocci também evitaria um desgaste de Marco Maia em anular a votação que convocou o ministro a prestar esclarecimentos na Câmara. Promovida anteontem, a decisão é contestada pela base governista, que acusa irregularidades no procedimento. Ontem, o presidente da Casa pediu todas as fitas que reproduzem o momento da votação e um relatório ao presidente da Comissão de Agricultura, Lira Maia (DEM-PA). O petista disse ainda que ¿é público e notório que a maioria da comissão não queria, não aprovou a convocação do ministro¿, mas repetiu que só anunciará uma decisão oficial na terça. Os partidos de oposição, especialmente PPS e DEM, ameaçam recorrer ao Supremo Tribunal Federal para confirmar a convocação.