Título: Palocci decide falar após pedido de Dilma
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2011, Política, p. 4

Ministro comentará sua evolução patrimonial nos últimos anos, mas ainda não definiu como será o pronunciamento

A pedido da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, prepara-se para romper o silêncio. Desde que chegou ao governo, ele praticamente não deu entrevistas. Fechado em copas nesses cinco meses, sairá do casulo justamente para explicar o crescimento de seu patrimônio e o faturamento de R$ 20 milhões obtido por sua empresa no ano eleitoral, especialmente depois que ele virou coordenador de campanha da então candidata Dilma Rousseff. O formato, entretanto, ainda não estava fechado até o início da noite de ontem. A única certeza era a de que não será um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e tevê, de forma a não misturar o governo com os serviços que Palocci prestava antes de virar o principal ministro da presidente.

Dilma e Palocci conversaram várias vezes sobre a crise ao longo da semana. Na última quarta-feira, ela disse que era importante ele falar. Até porque, assim fica mais fácil derrubar a convocação do ministro à Comissão de Agricultura da Câmara. ¿Vou falar, mas não agora¿, disse Palocci ao Correio, quando saía da solenidade de lançamento do programa Brasil sem Miséria. Ao discursar no evento de ontem, a presidente Dilma Rousseff deu a senha: ¿Nenhum de nós pode ser refém do medo ou da timidez. Temos que ser refém dos nossos sonhos e do compromisso com o Brasil¿. Os políticos presentes entenderam que ela se referia ao ministro.

Palocci se dispôs a falar porque considera o ato necessário para tentar virar a página da crise e seguir no governo, ainda que sem o brilho que tinha antes do episódio. A amigos, Palocci tem dito que o imbróglio está reduzindo de tamanho. A avaliação do ministro, segundo aliados do governo, não leva em conta um ponto importante: o caso está nas mãos da Procuradoria-Geral da República. Há, no governo, quem considere que se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidir abrir inquérito, Palocci será investigado e, mesmo que lá na frente seja considerado inocente, ficará numa situação insustentável do ponto de vista político.

O chefe da Casa Civil terminou se convencendo de que é melhor falar antes de o procurador se manifestar, conforme avisou ontem o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho: ¿Ele vai falar muito em breve, está avaliando o momento adequado. A presidente disse a ele que era importante falar¿. Carvalho fez questão de salientar, entretanto, que a vida continua. ¿A crise, para nós, tem um peso, uma importância. Mas ela é muito relativa. Para nós, o importante é o que está ocorrendo aqui (referindo-se ao Brasil sem Miséria). A ordem da presidente é que a gente continue trabalhando. As crises são importantes. A gente as enfrenta com maturidade. Muitas vezes, com dificuldade. Mas não perdemos o norte. Estamos ao lado de Palocci¿, disse Carvalho.

Credibilidade Enquanto o procurador-geral não se pronuncia, petistas e políticos de outros partidos que estiveram com Palocci sugeriram que ele repita publicamente, de viva-voz, o que disse no almoço com senadores do PT e a presidente Dilma na semana passada. Naquele encontro, Palocci falou sobre o trabalho de consultor, as cláusulas de confidencialidade, e ainda comentou que está tudo declarado no Imposto de Renda. E repetiu o discurso nas conversas com alguns aliados.

Muitos desses interlocutores consideram que o ministro passa credibilidade quando fala e isso pode ajudá-lo a animar a defesa e a criar um clima a seu favor, a começar pelo PT. Afinal, lembram alguns, se o ministro e seu partido não se defenderem, não serão os outros que irão fazê-lo.