Título: PT sobe o tom
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2011, Política, p. 8

A derrota do governo na sessão de 1º de junho, encerrada sem a votação de duas medidas provisórias que perderam a validade, agravou as fraturas na relação entre PT e PMDB no Senado. Depois de os peemedebistas deixarem a senadora Marta Suplicy (PT-SP) à mercê da fúria da oposição ¿ que a fustigou com críticas e ironias durante cerca de três horas enquanto a petista presidia a sessão de votação das MPs n° 520 e n° 521 ¿, o PT engrossou o discurso e avisou que, a partir de agora, não recorrerá a negociações e usará a maioria numérica para aprovar as matérias de interesse do governo.

Ontem, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-SP) e o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), deixaram evidente o desacordo entre as bancadas. Gleisi afirmou que as MPs caducaram graças a um erro do líder do governo: ¿Foi resultado da condução equivocada da liderança do governo. Essa Casa ainda pensa com a cabeça da legislatura passada, quando o governo precisava negociar¿. Jucá, por sua vez, recusou-se a adotar a estratégia de ¿tratorar¿ a oposição fazendo uso da vantagem numérica das bancadas do governo. ¿Respeito a opinião da senadora Gleisi, mas discordo.¿

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que a sessão do dia 1º servirá como divisor de águas da mudança do comportamento da bancada em relação à oposição e anunciou que o partido vai retirar o apoio ao substitutivo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que altera o rito de tramitação das medidas provisórias. ¿Foi a oposição que desrespeitou a presidente da Casa. São eles que estão forçando a mudança na relação. Se é paz, é paz, se é guerra, é guerra¿, ameaçou.

O conflito começou depois que integrantes da oposição se revezaram na tribuna, a partir das 21h do dia 1º, para deixar correr o tempo e não votar as MPs n° 520 e n° 521. As propostas tratavam da criação de empresa pública para gerir hospitais universitários e do reajuste da bolsa dos médicos residentes. A manobra deu certo e as MPs caducaram, à 0h do dia 2, sem que fossem votadas.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) foi escalado protagonista da obstrução orquestrada pela oposição e parte da base aliada. O parlamentar do Pará usou todas as brechas do regimento para fazer uso da palavra e revezava longos discursos técnicos com galhofas e provocações a Marta para esticar o debate até que o relógio marcasse meia-noite e as MPs caducassem. ¿Vossa Excelência deveria estar presidindo o Senado de Cuba. Está no país errado, nós estamos no Brasil¿, bradou Flexa, classificando a Presidência de Marta de ditatorial.

Ontem, a bancada do PT se manifestou em solidariedade a Marta. A senadora reclamou que foi vítima de machismo por parte dos colegas, que não respeitaram sua condução da sessão. ¿Não sei se agiriam com um homem como agiram comigo. Vejo que, com o Sarney, eles não se portam assim¿, reclamou Marta.