Título: Acordo fica para depois
Autor: Hessel, Rosana; Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2011, Economia, p. 15

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro (MIDC), Fernando Pimentel, e a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, frustraram as expectativas dos empresários ao anunciarem que pretendem acelerar a liberação das licenças não automáticas de importação, sem no entanto encerrar a crise que se arrasta há meses. As autoridades asseguraram que os dois países vão manter o diálogo em torno do tema, mas não assinaram compromissos formais ou estabeleceram um prazo para a normalização das relações comerciais.

¿A expectativa era de um acordo para que ambos eliminassem o mecanismo de licenças, mas isso não aconteceu. Esperamos que ao menos seja o primeiro passo nessa direção¿, afirmou a gerente-executiva de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Soraya Rosar.

A tensão entre os dois países aumentou nos últimos 20 dias, quando o Brasil resolveu estabelecer o sistema não automático para todos os veículos importados. A medida afetou diretamente a Argentina, responsável por 50% dos carros estrangeiros que entram no país.

Prazo extrapolado As restrições do país vizinho, por sua vez, afetam 583 produtos brasileiros, segundo Soraya. Os setores mais prejudicados são calçados, têxteis, máquinas agrícolas, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Alguns esperam há mais de 200 dias para serem liberados. ¿A Argentina vem extrapolando o prazo legal para a liberação imposto pela OMC (Organização Mundial de Comércio), de 60 dias, há tempos. Na Páscoa, muitos ovos ficaram presos na fronteira e foram perdidos¿, destacou.

Em maio, o deficit comercial da Argentina com o Brasil foi de US$ 626 milhões, volume 85% maior do que o registrado no mesmo período de 2010. No acumulado de 2011, saltou 111% , para US$ 1,95 bilhão.

Pimentel e Débora estiveram reunidos ontem no MDIC e apesar da pauta do encontro, demonstraram um clima amistoso e negaram que os países estejam no meio de uma guerra. ¿Nunca houve uma ruptura nas relações entre Brasil e Argentina. Os dois países têm uma corrente de comércio muito volumosa. Já chegou aos US$ 15 bilhões de janeiro a maio¿, afirmou o ministro brasileiro. ¿Nossas legislações não são iguais e os sistemas de controle sanitários são diferentes. É preciso entender que sempre haverá problema na fronteira¿, completou.

A ministra argentina tentou minimizar o impacto das barreiras de seu país contra o Brasil que, segundo ela, afetam apenas 20% do total das exportações. ¿Vamos avaliar os problemas de algumas empresas brasileiras que estão com os produtos parados na fronteira e tentar respeitar o prazo para a liberação das licenças em até 60 dias¿, assegurou.

Um levantamento da CNI revela que o impacto dos bloqueios do país vizinho é maior. ¿Nossas estimativas são que a lista ampliada de licenças não automáticas argentina afeta 22% das exportações brasileiras e cerca de 27% do total das vendas do Brasil para o país vizinho está sujeita a barreiras comerciais¿, comentou. (RH)