Título: Pátios esvaziam após restrições
Autor: Hessel, Rosana; Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 03/06/2011, Economia, p. 15

Licenças não automáticas para importações argentinas formam filas em revendedoras

Especial para o Correio

A adoção do mecanismo de licença não automática para as importações de veículos já começa a afetar as vendas e a produção de marcas fabricadas na Argentina. A gigante japonesa Toyota é uma das que sentem o impacto das barreiras comerciais não tarifárias impostas pelo Brasil há 20 dias. A revendedora da marca Newland, recém-chegada ao Distrito Federal, não tem mais veículos novos importados no pátio. ¿A falta de carros para pronta entrega já reduziu em 30% a nossa média mensal de vendas¿, afirmou o presidente da companhia, Luiz Teixeira de Carvalho.

O presidente da Toyota Mercosul, Shunnichi Nakanishi, afirmou que as empresas japonesas estão entre as mais atingidas pelo bloqueio brasileiro aos desembarques. Ao lado do vice-presidente, Luiz Carlos Andrade Jr., ele reconheceu que a companhia está preocupada com a demora para a liberação dos veículos, especialmente porque a montadora tenta se recuperar da queda de produção no Japão após o terremoto de março.

A Toyota trabalha, atualmente sem estoque de peças, no chamado ¿sistema just in time.¿ ¿Há vários caminhões de peças brasileiras parados na fronteira, atrasando nossa produção na Argentina¿, comentou Andrade Jr. O executivo informou que cerca duas mil unidades de picapes Hilux e do utilitário esportivo SW4, produzidos no país vizinho, aguardam o sinal verde na alfândega. ¿Esse volume equivale a 20 dias de vendas¿, explicou.

Retenção Somente no DF, 20 clientes aguardam a picape e outros 12, a SW4. ¿Fizemos uma lista de espera. A situação deverá demorar pelo menos mais 60 dias para ser normalizada. E as perdas desse período jamais serão recuperadas¿, lamentou Carvalho.

Aparentemente, a decisão do governo de fechar o cerco às importações de carros ainda não atingiu todas as montadoras internacionais, ao contrário do que alega o governo. Algumas dizem não enfrentar problemas para trazer os veículos ao Brasil. É o caso das coreanas KIA e Hyundai, que não possuem fábricas na Argentina.

A japonesa Mitsubishi informou que está preocupada, mas ainda não foi afetada pelas restrições. As revendas da Honda em Brasília também ainda não registraram dificuldades no estoque dos modelos Accord e CR-V, os únicos fabricados fora do país. Representantes da DF veículos (Honda) comentaram que a loja trabalha, atualmente, com o estoque reduzido por causa do terremoto de março e não em função das barreiras comerciais. Hoje, são produzidos 6 mil carros para o Brasil, quase metade dos 11 mil por mês habituais.

As autoridades argentinas liberaram licenças de importação pendentes de produtos brasileiros, dos setores de eletrodomésticos e de máquinas agrícolas, de US$ 50 milhões. No Brasil, por sua vez, foram liberados mais de três mil veículos procedentes vindos do país vizinho.