Título: R$ 3 bi da poupança para pagar dívidas
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 07/06/2011, Economia, p. 12

CONJUNTURA

Investidores retiram dinheiro da caderneta, cujos rendimentos ficam atrás de outras aplicações e ganham apenas da bolsa

Endividados até o pescoço e com a inflação devorando o orçamento familiar, os brasileiros se viram obrigados a sacar mais de R$ 3 bilhões da poupança em abril e em maio para tentar manter as contas em dia. O resultado da modalidade no mês passado foi o pior para maio desde 2006. Diante da baixa rentabilidade da tradicional caderneta, também está havendo uma fuga de investidores para outras aplicações, como fundos de renda fixa e títulos públicos e privados. Enquanto a poupança captou R$ 27,3 bilhões nos últimos 12 meses, os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), por exemplo, atraíram três vezes mais recursos e somaram, até o último dia 31, uma fortuna de R$ 92,5 bilhões.

Com mais renda e um forte desejo por experimentar produtos que antes lhe eram inacessíveis, a nova classe média exagerou na dose de gastança, em alguns casos ficou inadimplente e mandou para o sacrifício as economias conquistadas com suor e trabalho. ¿O resgate na poupança foi maior que os depósitos em maio e abril em função do endividamento do brasileiro. O crédito foi farto até o ano passado e, agora, a fatura está pesando¿, justificou Wilson Motta Miceli , coordenador do MBA de Mercados de Capitais e Derivativos da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).

Em maio, os depósitos na caderneta foram de R$ 107,4 bilhões. Os resgates, em contraponto, somaram uma cifra maior, R$ 108,7 bilhões e deixaram um saldo negativo líquido de R$ 1,3 bilhão no mês. Em abril, o resultado também havia ficado no vermelho, só que em um volume superior, em R$ 1,7 bilhão. ¿As pessoas estão usando a poupança para reequilibrar o orçamento. A nova classe média gastou demais e a inadimplência cresceu. A poupança também está perdendo captação porque, há pelo menos dois anos, ela não se apresenta como um bom investimento¿, argumentou Alan Soares, consultor financeiro da Trader Brasil Escola de Investidores.

Na comparação de rentabilidade entre as opções existentes, a poupança só não está pior, em 2011, do que as aplicações atreladas ao Ibovespa ¿ principal índice da BM&FBovespa ¿ que derreteu 9% no ano. A caderneta, no mesmo período, rendeu pouco mais de 3% e foi engolida pela inflação oficial, que chegou a 3,23% em abril. ¿As pessoas estão saindo também da poupança e migrando para títulos com rendimento pós-fixado, principalmente os que acompanham a Selic (taxa básica de juros). O que ocorreu com a poupança foi em função da dívida, um movimento pontual. Quem aplica nela vai continuar¿, avaliou Miceli.

¿As pessoas também estão ganhando mais. Ao mesmo tempo, há mais acesso à educação financeira. O investidor é bombardeado por esses dados e começa a aplicar intuitivamente em outros investimentos¿, concluiu Soares. Para os especialistas, a quantidade crescente de pessoas negociando ações é exemplo claro de que o brasileiro aproveita o rendimento de outras modalidades. A captação de fundos de renda fixa também evidencia a mudança. Nos últimos 12 meses até maio, essa alternativa superou a caderneta em mais que duas vezes, atraindo R$ 61 bilhões.