Título: Apagões exigem solução urgente
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Fonte: Correio Braziliense, 07/06/2011, Opinião, p. 14

Apagões em Brasília deixaram de ser fatos excepcionais. A repetição tornou as quedas de energia corriqueiras e democráticas. Além das cidades do Distrito Federal, áreas nobres da capital sofrem com constantes blecautes. Entre elas, o Plano Piloto e os Lagos Sul e Norte. Os transtornos afetam a vida do cidadão em espaços externos e internos.

Aparelhos eletrônicos se danificam. Semáforos deixam de funcionar, elevadores param, cinemas fecham a bilheteria. Bares, restaurantes e lanchonetes perdem clientes e alimentos cuja manutenção precisa de baixas temperaturas. Hospitais sem geradores próprios correm risco de matar enfermos. Não só. Jogam no lixo medicamentos que necessitam de refrigeração para manter a validade.

A escuridão, vale lembrar, constitui combustível para a violência. Não é por acaso que uma das receitas para diminuir a ocorrência de agressões, roubos ou homicídios é melhorar a iluminação pública. Ora, o cidadão surpreendido pela falta de luz em meio a trajeto para casa ou para o trabalho fica à mercê da sorte. Torce para não encontrar marginal em busca de oportunidade.

No domingo, mais uma vez, o Distrito Federal foi surpreendido por apagão abrangente. Atingiu Guará, Ceilândia, Samambaia, Candangolândia, Taguatinga e Park Way. A causa do distúrbio: pane que desligou uma das linhas de transmissão que ligam a usina de Furnas à Estação Brasília Sul-Samambaia II.

Linhas de transmissão, aliás, têm respondido pelos cortes no fornecimento de energia não só na capital da República mas também nas demais unidades da Federação. Vale voltar a 10 de novembro do ano passado. Na oportunidade, avaria em Itaipu deixou às escuras, por três horas, nove estados e setores do DF. Entre os tantos transtornos, trens ficaram parados nos trilhos e aviões nas pistas.

Impõem-se soluções urgentes para reforçar as fragilidades do sistema. Desde a crise de 2001, os investimentos no setor concentram-se na oferta. A transmissão e a distribuição estão relegadas a planos secundários. Com estruturas saturadas, incapazes de atender a demanda crescente, ficam à mercê da sorte. Chuva, vento, humor de funcionário distraído tornaram-se vilões da luz e da força.

Ciclones, terremotos e tempestades devastadoras não costumam maltratar o país. No Distrito Federal, porém, qualquer chuva, por mais branda que seja, tem o poder de espalhar a escuridão capital afora. Ora, o abastecimento de energia elétrica é serviço essencial que só pode ser interrompido pela ação de fenômenos incontroláveis da natureza. Outras causas pressupõem falta de planejamento. Ou incompetência.