Título: Congresso defende decisão
Autor: Rothenburg, Denise ; Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2011, Política, p. 2

No Congresso, deputados e senadores da base aliada e da oposição comemoraram a saída de Antonio Palocci da Casa Civil. Desde que assumiu o cargo, o ex-ministro se manteve distante dos políticos e aparecia apenas para orientar a base em votações importantes. Recusava pedidos de audiências e colocava o ministro Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, para ouvir os pleitos e repassar os recados a ele. Uma postura que vinha incomodando congressistas e despertado movimentos nos bastidores favoráveis à sua queda.

¿Os deputados reclamaram muito de não serem atendidos. Mas ninguém foi. Nem quem é da base, nem que é próximo a ele ou ao PT. Ele optou por esse distanciamento e isso incomodou muita gente¿, comenta o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). ¿O ministro foi colocado no cargo com a expectativa de que usasse seu talento de articulador político para ajudar a presidente. O que se viu foi que ele usou muito pouco essa capacidade que tem. Isso o prejudicou nessa crise¿, avalia o líder do PSol, Chico Alencar (RJ). ¿Acho que a saída do ministro encerra uma polêmica. Foi bom para favorecer a atuação do governo e para permitir a continuidade dos trabalhos. Será possível seguirmos com a vida parlamentar e aprovarmos as propostas que trancam a pauta¿, comenta o líder do PT, Paulo Teixeira (SP).

Para o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), a saída de Palocci ocorreu por conta da politização dos ataques e da sensação de que a permanência dele na Casa Civil iria abrir feridas entre o governo e a base aliada. ¿Chegou-se a um ponto em que as discussões estavam apenas na esfera política e ficava difícil para ele se defender estando no cargo. Depois que os pareceres jurídicos o favoreceram e mesmo assim os ataques continuaram, ele viu que havia um quadro muito agressivo e optou por sair¿, disse.

Solução parcial A queda de Palocci, para alguns parlamentares, sinalizou também a pouca disposição da presidente Dilma Rousseff de manter no primeiro escalão assessores que sejam alvos de acusações. ¿A demissão é boa para Palocci, boa para o Brasil e boa para a presidente. Duvido que alguém faça coisa errada no governo dela, senão vai cair também¿, opina o senador Pedro Simon (PMDB-RS). ¿É da minha natureza, eu não comemoro episódios como este, mas acho que a decisão foi correta¿, disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

A demissão dele intensificou ainda mais as pressões pela saída de Luiz Sérgio da articulação política. Considerado inadequado para o cargo, o ministro é criticado por não ter conseguido abrir um canal de comunicação com o Congresso. Apesar da sua saída iminente, um grupo de deputados da base ainda pedia ontem para a presidente dar a ele mais uma chance. ¿Pode ser que ele fique porque os estilos mudaram. Ele teria um novo papel de articulador com a nova ministra com o papel de gestora¿, opina o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

Colaborou Vinicius Sassine

CRONOLOGIA

15 de maio O jornal Folha de S. Paulo divulga que Antonio Palocci, então ministro da Casa Civil, multiplicou em 20 vezes o patrimônio entre 2006 e 2010.

17 de maio A Comissão de Ética Pública da Presidência da República confirma a versão de Palocci de que toda a documentação da empresa Projeto foi entregue ao colegiado e arquiva o caso.

20 de maio O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, dá 15 dias para que Palocci explique sua evolução patrimonial.

24 de maio O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem até Brasília e almoça com senadores do PT para conter a crise.

26 de maio A presidente Dilma Rousseff defende, pela primeira vez, o seu principal ministro em entrevista no Planalto.

1º de junho A Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara aprova requerimento de convocação de Palocci.

2 de junho Contrariando orientação do governo, executiva do PT não divulga nota de apoio a Palocci.

6 de junho Procurador Roberto Gurgel arquiva representações da oposição pedindo a abertura de inquérito para investigar Palocci.

7 de junho Palocci deixa o governo.