Título: Convite para depor
Autor: Rothenburg, Denise ; Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2011, Política, p. 2

Uma boa medida do termômetro da base aliada em relação à saída de Antonio Palocci da Casa Civil será dada nos próximos dias. Ao lado da oposição, todos os partidos governistas votarão um convite para que o agora ex-ministro vá ao Congresso explicar a evolução patrimonial. Isolado no parlamento e sob fogo cerrado de oposicionistas e aliados, Palocci ainda tentou ontem uma última articulação para prestar esclarecimentos a deputados e senadores, ainda sob as vestes de ministro.

Fora da Casa Civil, Palocci ainda pode ser investigado por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). De certo, será convidado em decisão conjunta da oposição e do governo, para prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.

Logo no início da manhã, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), testou o pulso da base aliada sobre a situação de Palocci.

Ouviu dos líderes governistas que o ministro deveria aproveitar a maré temporariamente favorável pela decisão da Procuradoria-Geral da República e pedir demissão. No Senado, governistas e oposicionistas ainda derrubaram na última hora uma tentativa de convocação do ex-ministro na Comissão Mista de Controle de Atividade de Inteligência. Na Câmara, o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), também demonstrou pouca disposição em arcar sozinho com o ônus político de anular a convocação do ex-ministro para prestar esclarecimentos sobre sua multiplicação patrimonial na Comissão de Agricultura.

Pressionado, Maia procurou a oposição e sugeriu um acordo. Em vez de derrubar o requerimento, o desgaste poderia ser evitado com a aprovação de um convite para que Palocci depusesse, com hora e data marcada. O único porém era que a fala do ex-ministro deveria ser pronunciada na Comissão de Constituição e Justiça, comandada pelo petista João Paulo Cunha (SP). Os líderes do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), e do PSDB, Duarte Nogueira (SP), aceitaram a oferta, mas o anúncio da saída de Palocci tornou o acordo sem efeito.

Falta de apoio Minutos depois, no entanto, veio o acerto entre oposição e governo para a votação de um convite para que ele finalmente venha à Câmara. ¿O acordo anterior não vale, mas fechamos outro para que aprovemos um convite para que ele venha se explicar¿, confirmou Vaccarezza. O acordo mostra a falta de apoio a Palocci no Congresso, que acabou isolado pelos partidos da base aliada, incluindo o próprio PT. ¿A crise era do Palocci e ela agora vai embora com ele. Acho que ele caiu pela demora em se explicar e porque achou que podia ter sobrevida¿, criticou o senador Walter Pinheiro (PT-BA).

A instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) para investigar o enriquecimento de Antonio Palocci permanece a uma assinatura de ser viável, pelo menos no Senado. A oposição, pouco antes da demissão, conseguiu recolher ontem mais dois apoiamentos e agora contabiliza 26 senadores ¿ uma CPI depende de 27 rubricas. Os senadores pedetistas Pedro Taques (MT) e Cristovam Buarque (DF) assinaram o requerimento. ¿Os esclarecimentos prestados pelo ministro não convenceram¿, disse Taques, poucos minutos antes da demissão.