Título: Fim da linha para Palocci
Autor: Rothenburg, Denise ; Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2011, Política, p. 2

Depois de três semanas de crise política, uma carta de seis linhas, com 79 palavras e 486 caracteres, entregue à presidente Dilma Rousseff selou a passagem de Antonio Palocci no cargo de ministro da Casa Civil. Dilma concluiu que ele não tinha mais condições políticas para exercer a função. Especialmente dentro do PT, que negou a edição de uma nota de apoio ao ministro. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, será a nova chefe da Casa Civil. ¿Assumo para cuidar da gestão¿, afirmou ela.

Dilma pretende substituir ainda o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e reformular toda a coordenação política do governo. Mas, primeiro, quer a Casa Civil bem voltada para a gestão dos programas de governo. E até o final da semana, deve acertar a política, que tem problemas desde que o início da gestão.

A ida de Gleisi para a Casa Civil começou a se desenhar às 15h. A senadora tinha acabado de passar pelo plenário do Senado, quando avisou a assessores mais próximos: iria se ausentar da Casa para resolver um ¿probleminha¿. Retornou do Palácio do Planalto às 19h30, já ministra-chefe da Casa Civil. Ao entrar no plenário da Comissão de Assuntos Sociais do Senado, onde um batalhão de jornalistas a aguardava, Gleisi estava serena.

A senadora resumiu qual será sua função como ministra e qual será a nova lógica da Casa Civil: ¿A presidente Dilma quer o funcionamento da Casa Civil na área de gestão. Serão ações de gestão, de acompanhamento dos projetos de governo.¿ De acordo com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), a nova ministra-chefe da Casa Civil não vai se envolver na articulação política. ¿Na prática, ela vai ser a Dilma da Dilma¿, afirmou.

Casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, Gleisi criticou abertamente o antecessor, Antonio Palocci, e o fiador do ministro demitido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso ocorreu na casa dela há 15 dias, quando a bancada do PT no Senado se encontrou com Lula. Diante da situação complicada de Palocci, o convite a Gleisi foi feito ontem pela presidente Dilma. ¿Sei o tamanho da responsabilidade. Esse é um momento triste. É uma pena a perda de Palocci, a quem acompanho desde a transição para o governo de Lula. Espero corresponder à expectativa¿, afirmou a nova ministra.

Almoço Ontem pela manhã, quando se reuniu com o seu chefe de Gabinete, Giles Carriconde, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, Dilma fez chegar a alguns aliados que até o fim do dia anunciaria sua decisão no sentido de reformular a articulação política do governo: demitiria Antonio Palocci ou o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, ou os dois. Preferiu trocar por partes, na contramão do que desejava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim quer deslocar o governo da crise política.

Na noite de segunda-feira, depois que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, anunciou o arquivamento do pedido de investigação contra Palocci, o ex-ministro conversou com o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. Falou também com o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves. Juntos, avaliaram que Palocci deveria ir ao Congresso. O ministro aceitou sob condições: que a oposição não apresentaria nem mais um requerimento para convocá-lo e não haveria CPI.

Na hora do almoço, quando Dilma recebeu o PTB no Alvorada, os líderes ainda negociavam a possível ida de Palocci ao Congresso. Por volta das 15h30, quando todos voltaram do almoço do PTB, Palocci e Dilma souberam pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa, que fracassara a tentativa de editar uma nota de apoio, proposta pela senadora Marta Suplicy (PT-SP). Para completar, a CPI angariava novas assinaturas, e chegou a 26, faltando apenas uma para sua instalação no Senado. Assim, Dilma decidiu que Palocci não tinha mais como permanecer no cargo.

Os congressistas souberam logo no início da noite, depois que Palocci telefonou para os parlamentares avisando que estava fora do governo. Ele foi conversar com a presidente às 17h. O encontro durou 50 minutos. Ao final, a presidente mandou soltar um comunicado oficial dizendo que ¿aceitou e lamenta¿ a perda de ¿tão importante colaborador¿.

Da conversa com Dilma, Palocci retornou ao seu gabinete para preparar o discurso que fará hoje, na transmissão do cargo a Gleisi. Dilma então chamou Luiz Sérgio para uma conversa. A ala que ele representa dentro do PT ainda tentava segurá-lo, mas o destino é incerto, com grande possibilidades de deixar o cargo. Interlocutores do Planalto informam que a presidente, inclusive, já estuda nomes para o lugar dele. Afinal, como Gleisi vai cuidar da gestão, Dilma precisará de alguém forte e com liderança à frente do Ministério de Relações Institucionais.