Título: Ofensiva ambiental ampliada
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2011, Política, p. 6

Pouco mais de 15 dias após a instalação do gabinete de crise para conter o desmatamento da Amazônia em Mato Grosso, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) conseguiu controlar a destruição desenfreada na região. A chefe da pasta ambiental, Izabella Teixeira, no entanto, ainda manterá a força-tarefa no estado. Agora, com um foco diferente: as autoridades vão trabalhar no mapeamento e na apreensão das madeiras extraídas ilegalmente.

O aperto na fiscalização do escoamento das cargas tende a gerar um desaquecimento na economia local e aumentar o desemprego nas cidades próximas às áreas mais devastadas. De acordo com a explicação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Mato Grosso, os madeireiros ilegais não cumprem as leis trabalhistas e, quando perdem as mercadorias, dispensam os funcionários sem o pagamento de qualquer beneficio.

¿Essa é uma prática recorrente. Quando os madeireiros perdem o produto, eles precisam reduzir custos. Quem sofre com isso são os trabalhadores mais simples. Como se não bastasse, os patrões tentam colocar essas demissões na conta do governo. Isso não é justo. Quem tem madeira lícita continua trabalhando¿, ressalta Curt Trennepohl, presidente nacional do Ibama, acrescentando que a madeira ilegal é vendida com preço até 30% mais baixo.

Trennepohl diz, ainda, que o governo não tem projetos específicos para ajudar os trabalhadores demitidos nesses casos: ¿Não seria justo com as empresas que agem dentro da lei, pagam impostos e geram empregos legais¿.

No último encontro do gabinete de crise, na semana passada, ficou decidido que parte da equipe mobilizada por Izabella Teixeira será deslocada para o sul do Pará. Com a diminuição da incidência de nuvens na região, os satélites identificaram áreas desmatadas. Amanhã, depois de mais uma reunião ordinária do gabinete, a ministra do Meio Ambiente deve anunciar resultados parciais e os próximos passos da equipe.

Violência no campo Em entrevista depois da cerimônia de lançamento do Comitê Organizador do Rio 20, Izabella Teixeira falou sobre o combate ao desmatamento na Amazônia e a violência no campo. ¿Assumi um compromisso político de continuar reduzindo o desmatamento ilegal na Amazônia e, com isso, cumprir não só as metas da Política Nacional de Mudanças Climáticas, mas também de conservação da bioversidade, que resultam daquilo que foi acertado na conferência do Japão.¿

¿Lamentavelmente, temos conflitos socioambientais associados à questão da posse da terra e do desmatamento ilegal.

O governo vai combater diariamente, com toda força, esse tipo de calamidade. O MMA e o Ibama estão presentes nessas frentes. Os fiscais, muitas vezes, são alvos dessas situações de emboscada, de violência. O Brasil não tolera esse tipo de coisa, de injustiça social. É por aí que se constrói sustentabilidade. Vamos construir um país cada vez mais forte¿, concluiu Izabella.

» Colaborou Débora Álvares

Governo tenta conter conflitos fundiários Tropas federais começaram ontem a ocupação em algumas regiões do Pará para tentar diminuir os conflitos fundiários e ambientais que resultaram em quatro mortes em menos de um mês. O governo também colocou à disposição de Pará, Rondônia e Amazonas policiais civis para ajudar na elucidação dos crimes. A entrada das forças foi determinada, na semana passada, pela presidente Dilma Rousseff e foi anunciada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que esteve na Câmara ontem para debater a violência no campo. Na sessão, havia 20 ambientalistas que estão sendo ameaçados de morte. Cardozo esteve no Congresso acompanhado pelos colegas do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. (Edson Luiz)

Comitê e comissão A presidente Dilma Rousseff criou ontem a Comissão Nacional e o Comitê Nacional de Organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio 20). Durante o discurso, ela mandou um recado aos ruralistas e afirmou que não pretende permitir ações de desmatamento no Código Florestal que está sendo apreciado no Congresso. ¿Não negociaremos e não tergiversaremos com a questão do desmatamento. Nós iremos cumprir os compromissos que assumimos, e não permitiremos que haja uma volta atrás na roda da história¿, destacou, em cerimônia no Palácio do Planalto ontem. A comissão será copresidida pelos ministros das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.