Título: Sem Palocci, a hora é de retomada
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Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2011, Opinião, p. 14

A saída do ministro Antonio Palocci, a despeito de representar a perda de um quadro importante para a equipe da presidente Dilma Rousseff, pode marcar a retomada do ritmo de trabalho do governo. Nas últimas semanas, o episódio envolvendo o chefe da Casa Civil impunha constrangimento a parte da base aliada e contribuía para ampliar as dificuldades naturais das conversações com o Congresso Nacional. Não à toa, o Palácio do Planalto foi derrotado na votação do projeto do novo Código Florestal e sofreu até chantagem de certas lideranças aliadas, que, em vez de oferecer solidariedade, valeram-se do momento de fragilidade para tentar arrancar novos nacos do poder. Mas, como tudo é lição para quem sabe aprender, a presidente sai do episódio mais bem informada sobre com quem pode contar e de quem esperar oposição firme, mas civilizada.

Página virada, é hora de voltar a imprimir o ritmo quase frenético com que, em poucos meses, Dilma colocou a política externa do país de volta ao bom senso e ao pragmatismo, ao mesmo tempo em que teve coragem para manejar a tesoura da austeridade fiscal e lucidez para bancar ostensivamente o mandato da autoridade monetária. Decidida a repor as contas públicas na medida do superáavit primário projetado, a não permitir a disparada da inflação e a não fazer pirotecnia no câmbio, a presidente deu sinais claros aos mercados, interno e internacional, de que chegara ao poder disposta a preservar as condições necessárias para que o país ultrapasse a categoria de emergente.

Já não era sem tempo. A inflação volta a corroer os salários e o comando da economia terá de contar com tranquilidade para conduzir uma passagem delicada: crescer menos agora, para garantir saltos mais seguros logo adiante. Tal fase está a exigir diálogo maduro e negociação eficaz com as diversas correntes políticas do país, aliadas ou não, dentro e fora do Congresso. A presidente já anunciou a disposição de promover as reformas politicamente factíveis com o propósito de estimular a produção, o emprego e a competitividade do setor privado. Deu os primeiros e indispensáveis passos para atrair a agilidade e o capital das empresas na expansão e atualização da infraestrutura aeroportuária e começou a tocar seu ambicioso projeto de erradicação da miséria.

Agora é retomar os desafios que o país tem pela frente. A saúde pública continua a envergonhar a sétima economia do mundo e a baixa qualidade da educação não promete futuro algum à nação. Além dos aeroportos, as rodovias e os portos aguardam investimentos para deixarem de ser peso extra no custo Brasil e passarem a ser vantagens competitivas. Nada disso se fará sem o envolvimento e a parceira da sociedade, sem preconceitos e viés antiquados. A presidente começou bem. As inúmeras horas diárias de trabalho e a firmeza com que cobra resultados da equipe gravaram sua marca em Brasília. Até mesmo seu estilo discreto e sem espalhafato de governar agradou. Fará bem se voltar a ser 100% Dilma Rousseff.