Título: Céus interditados
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2011, Mundo, p. 16

Três semanas após as cinzas de um vulcão terem provocado o fechamento parcial do espaço aéreo europeu, ontem foi a vez de os céus da América do Sul serem perturbados por um fenômeno semelhante. A nuvem de fumaça e poeira expelida pelo vulcão chileno Puyehue, que entrou em erupção no sábado, avançou sobre a Argentina e provocou o fechamento dos dois aeroportos da capital. Em um efeito dominó, voos foram cancelados no Chile, no Paraguai, no Uruguai e no Brasil, que registrou a entrada de cinzas no oeste do Rio Grande do Sul.

A situação foi mais grave na Argentina, onde foram cancelados todos os voos domésticos e internacionais dos dois principais aeroportos ¿ Ezeiza e Aeroparque ¿, ambos em Buenos Aires. Os aeroportos da Patagônia também permaneceram fechados durante todo o dia. Um dos polos turísticos do país, a estação de inverno e esqui de Bariloche, que recebe milhares de visitantes, estava isolada, com espaço aéreo e estradas fechadas e sem energia elétrica. A cidade fica próxima à fronteira com o sul do Chile, onde se localiza o vulcão. No fim da tarde, porém, as condições meteorológicas em Buenos Aires começaram a melhorar e alguns voos começaram a ser retomados

No Brasil, os aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro, Foz de Iguaçu, Florianópolis e Porto Alegre tiveram voos cancelados. A TAM informou, por meio de nota, que 39 de seus voos tiveram de ser suspensos. Todos, segundo a empresa, tinham destino ou origem em Buenos Aires, Assunção e Ciudad del Este (Paraguai), Montevidéu (Uruguai) e Santiago (Chile). Também por meio de um informativo, a Gol anunciou o cancelamento de 11 voos com os mesmos destinos e origens.

A companhia alemã Lufthansa explicou que um voo que tinha partido de Frankfurt na noite de segunda-feira, com destino a Buenos Aires, pousou ontem em Guarulhos e deve seguir hoje para a capital argentina. A Aerolíneas Argentinas comunicou que ontem à tarde foram retomados seus voos a partir da capital argentina. Três tinham como destino São Paulo.

Cinzas no Brasil O site gaúcho MetSul Meteorologia confirmou que a nuvem de cinzas do Puyehue ingressou na manhã de ontem no Rio Grande do Sul, por volta das 8h. Mas ela só pôde ser observada por imagens de satélite, uma vez que estava acima de nuvens de chuva que se concentravam sobre o estado. O professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador de rochas vulcânicas Carlos Sommer explicou ao Correio que as cinzas que chegaram ao país são extremamente finas e não deverão causar transtornos nem fechamento de aeroportos. Elas foram impulsionadas por um ciclone extratropical.

A desordem causada pela nuvem de cinzas do Puyehue frustrou os planos de viagem da promotora de Justiça gaúcha Andrea Barros. Moradora de Frederico Westphalen, ela embarcaria amanhã pela Aerolíneas Argentinas para Ushuaia e El Calafate, na Patagônia argentina. "Não tenho previsão de embarque, porque a operadora nos ofereceu optar entre manter a viagem como estava, com todos os riscos, ou cancelar e ficar com o crédito e o direito de remarcar as passagens dentro de um ano", afirmou à reportagem.

A promotora contou que seu objetivo é "conhecer o mundo", viajando a cada ano para um lugar com o marido e postando tudo em um blog. Mas a Argentina foi o terceiro destino que o casal precisou adiar neste ano. Os projetos de viajar para a Índia e o Caribe também não deram certo. "A natureza se encarregou de me mostrar que não era para ir agora. Depois de tantos sinais, optamos por ficar com o crédito e escolher outra data para viajar", resignou-se. A atividade do vulcão teve uma leve diminuição ontem, mas intensas chuvas na região poderiam provocar avalanches e arrastar o material expelido, segundo um relatório do Escritório Nacional de Emergências (Onemi) argentino.