Título: Ainda no foco das atenções no Congresso
Autor: Silveira, Igor ; Sassine, Vinícius
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2011, Política, p. 2

Mesmo longe do cargo de ministro da Casa Civil, Antonio Palocci continua sendo assunto e motivo de embates entre aliados e oposicionistas no Congresso. Ontem, enquanto ele se preparava para entregar o posto, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitava três requerimentos que tentavam dar fôlego à crise governista. Na Câmara, a Comissão de Agricultura virava palco de batalhas em torno da polêmica convocação do petista aprovada na semana passada.

As demonstrações de que o ex-braço-direito da presidente Dilma Rousseff iria continuar sendo alvo das disputas políticas no Senado incluíram discussões sobre a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o aumento patrimonial de Antonio Palocci.

Segundo a oposição, faltam sete assinaturas para oficializar o pedido. Mas a base do governo promete resistir e pressionar pelo encerramento das discussões. O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), se antecipou e disse que não concorda com a ideia. Para ele, a saída do petista encerra a crise e vira a página. ¿Acho que isso é página virada. Superada a crise, vamos nos dedicar a resolver os problemas que estamos enfrentando, como por exemplo o das medidas provisórias, da reforma política e das propostas temáticas¿, disse.

Os governistas também se esforçam para parecerem empenhados em encerrar o caso na Câmara. Os parlamentares da base travaram uma guerra na Comissão de Agricultura para evitar a aprovação da ata da sessão do último dia 1º, que aprovou a convocação do então ministro. O presidente do colegiado, Lira Maia (DEM-PA), alegou que a votação foi correta e insistiu na aprovação da ata. Os petistas se rebelaram e propuseram a destituição do parlamentar do cargo se ele insistisse na convocação. A oposição reagiu. ¿Bateu o desespero no PT. Perderam o ritmo, a regra e a convivência respeitosa e partiram para a agressão¿, disse Ronaldo Caiado (DEM-GO), aos gritos.

¿São as viúvas de Palocci inconformadas¿, completou o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). ¿Não estamos discutindo Palocci, mas a forma como o presidente conduziu a sessão, a questão de procedimentos. Poderia ter sido qualquer outro assunto que seria questionado¿, disse Assis do Couto (PT-PR). Sem acordo, a comissão adiou para a próxima semana a nova tentativa de votação da ata.

Enquanto ocorria o embate, senadores do PSol, PSDB e DEM tentavam aprovar três requerimentos que poderiam dar fôlego à crise. Dois propunham convites para que o ex-ministro fosse depor sobre como enriqueceu tão rapidamente. O outro, proposto pelo DEM, tentava convocar o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, para falar sobre a quebra de sigilo do caseiro Francenildo dos Santos, em março de 2006, quando Palocci era ministro da Fazenda.

Dúvidas O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), tentou acordo para a retirada dos requerimentos, mas as legendas insistiram. As propostas foram a voto e terminaram rejeitadas. ¿Uma pena esse resultado. Ainda restam dúvidas a serem esclarecidas. Vamos continuar tentando¿, anunciou o líder tucano, Álvaro Dias (PR). A depender dos petistas, no entanto, o ministro só vai comparecer se for à Comissão de Constituição e Justiça, comandada por João Paulo Cunha, aliado antigo.

Uma passagem quase invisível O ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci passou pouco mais de cinco meses no cargo mais importante do governo Dilma Rousseff sem ter registrado qualquer despesa com diárias. Quando viajam, praticamente todos os ministros gastam com alimentação e deslocamento e são ressarcidos. Antes da crise política, Palocci também não aparecia na lista de ministros e servidores divulgada no Portal da Transparência, site de controle da Controladoria-Geral da União (CGU). Seu nome foi inserido recentemente, mas agora deve sair de novo, já que o posto foi perdido.

Adeus também à Petrobras Antonio Palocci continuará recebendo salários de ministro durante a quarentena de quatro meses, mas abriu mão da vaga no Conselho de Administração da Petrobras. A posição garantiria a ele remuneração anual perto de R$ 76 mil ¿ o mandato iria até abril de 2012. Na quarentena, Palocci manterá os R$ 26,7 mil mensais da Casa Civil, mas não poderá atuar na iniciativa privada em setores conflitantes com a posição que exercia no Planalto. Os planos de Palocci para os próximos meses incluem férias com familiares e preparação para voltar à vida de consultor.