Título: O poderoso Mantega
Autor: Caprioli, Gabriel ; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2011, Economia, p. 16

Com a queda de Antonio Palocci da Casa Civil, seu principal contraponto na Esplanada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, passou a ter o controle exclusivo da política fiscal. Essa é avaliação do mercado financeiro, que começou a questionar se o ajuste nas contas públicas feito até agora será mantido. Para os analistas, o temor é de que, com o caixa recheado pelo aumento recorde da arrecadação de impostos, Mantega, com seu perfil gastador, abra os cofres para atender aos apelos políticos. Nos primeiros quatro meses do ano, o setor público acumulou superavit primário (economia para o pagamento de juros de juros) de R$ 57,3 bilhões, o equivalente a 49% da meta para todo o ano.

Segundo o economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, o perigo é grande. "À primeira vista, os números do superavit primário são bons. Mas, infelizmente, o que o governo chama de ajuste fiscal não é corte de custos, mas aumento de arrecadação. Nossa preocupação é de que se retome a gastança dos últimos anos", afirmou. Para Agostini, a ampliação das despesas em anos que precedem eleições municipais é tradicional, uma vez que começam a ser negociados os apoios políticos para os pleitos.

Investimentos O professor Aquiles Rocha, do Ibmec, chamou a atenção para o risco de descontrole nas contas, uma vez que, no lugar de Palocci, assume Gleisi Hoffmann, que não tem o mesmo trânsito dentro do governo e o mesmo compromisso com o ajuste fiscal. "Em princípio, ela tem perfil mais gerencial e não parece ser uma pessoa forte dentro do PT. Além disso, nunca participou do primeiro escalão do governo federal. Com isso, dificilmente será um contraponto a Mantega na hora de se decidir pelos gastos", disse.

Na avaliação dos especialistas, se realmente o governo decidir abrir os cofres, que seja por uma boa causa. Ou seja, para ampliar os investimentos em infraestrutura, que estão travados. Apesar de o Tesouro Nacional ter contabilizado desembolsos de R$ 13,3 bilhões nesta rubrica entre janeiro e abril, R$ 12,6 bilhões foram para pagar obras contratadas em anos anteriores, os denominados restos a pagar. (GC)