Título: Aposta na queda da inflação
Autor: Caprioli, Gabriel ; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2011, Economia, p. 16

A presidente Dilma Rousseff está apostando todas as fichas na economia para se livrar do desgaste provocado pela demissão de Antonio Palocci da Casa Civil. Nas três semanas em que o ex-ministro sangrou, parte da popularidade do governo foi atingida. Agora, acredita a chefe do Executivo, chegou a hora de reverter as más notícias e surfar na onda da queda da inflação, que se estenderá por pelo menos três meses. Os aliados da presidente acreditam que, com a volta da sensação do aumento do poder de compra, abalado nos últimos meses, não há crise política que mine a confiança no governo.

O tombo da inflação foi confirmado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Na primeira prévia de junho, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) subiu 0,36%, o menor nível desde setembro de 2010. Nas projeções dos especialistas, é possível que o indicador encoste no zero até o fim do mês. Eles se baseiam em outra taxa que antecipa o repasse de custos para os consumidores: o Índice de Preços do Atacado (IPA), que caiu 0,63% no acumulado dos últimos 30 dias. "Sem dúvida, há sinais claros de melhora na economia e as expectativas para o futuro próximo são boas. Se Dilma passar ao mercado claramente a mensagem de que o foco do governo é continuar combatendo a inflação, será uma importante sinalização", disse o professor Aquiles Rocha, do Ibmec.

A presidente, por sinal, usou o seu discurso na posse de Gleise Hoffmann na chefia da Casa Civil para mostrar o quanto contará com a economia na busca por boas notícias. "Nossa prioridade será o controle da inflação, o crescimento econômico e a geração de empregos, com rigidez fiscal", afirmou. Dilma sabe que, para os eleitores, o que importa é o bolso. E três itens básicos do orçamento doméstico estão com os preços em queda: alimentos, combustíveis e vestuário. E mais: mesmo mais caro, o crédito continua farto.

Safra maior No caso dos alimentos, o governo está contando com o aumento da safra agrícola. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a previsão para a colheita da safra 2010/2011 passou para 161,5 milhões de toneladas de grãos, um salto de 8,2% ante o período anterior. Na prática, tal projeção indica que haverá mais oferta de alimentos nas feiras e nos supermercados, um refresco para os preços. A equipe econômica conta ainda com as perspectivas de baixa nas cotações das commodities (produtos básicos negociados internacionalmente). Desde o início do mês, essas mercadorias ficaram, em média, 4,47% mais baratas.

Dilma também está apostando que, com a desejada desaceleração da economia, o Banco Central, que ontem elevou a taxa básica de juros (Selic) de 12% para 12,25% ao ano (veja matéria na página 18), poderá suspender antes do previsto o processo de arrocho monetário. Além do recuo da inflação, o BC levaria em consideração o quadro de enfraquecimento da atividade mundial, o que, em outros momentos, não seria bem-vindo. Agora, porém, com o planeta crescendo menos, a demanda por commodities diminui e os seus preços recuam.

Para o governo, mantendo um ritmo saudável de crescimento em torno de 4,5%, com inflação sob controle, o desgaste político tenderá a se dissipar. "A inflação mais baixa será a tábua de salvação de Dilma. Ela aproveitará o bom comportamento dos preços para se reerguer. Os consumidores sentirão mais claramente a queda da inflação em junho e julho e o estrago causado por Palocci será passado", afirmou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora.

Quase nulo A avaliação dos analistas é de que a saída de Antonio Palocci da Casa Civil afetou pouco o funcionamento e as expectativas do mercado financeiro. Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o tempo entre a publicação das denúncias, há três semanas, e a queda do homem mais poderoso do governo Dilma Rousseff foi suficiente para os agentes dissiparem o nervosismo.