Título: Dilma e a articulação com o Congresso
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Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2011, Opinião, p. 24

Relações dinâmicas e bem coordenadas com o Congresso são esteios indispensáveis para que o Executivo atenda às demandas essenciais da sociedade e, assim, assegure a eficácia da governança. A observação é óbvia, mas cabe lembrá-la no instante em que se apresenta como um dos desafios mais complexos à presidente Dilma Rousseff. Antonio Palocci, o ministro da Casa Civil afastado do cargo e a quem cumpria dialogar com o Legislativo, não pôde desempenhar com êxito o papel. Centro de desgastante controvérsia política, malgrado hábil negociador, viu-se em cenário adverso ao exercício da função.

Foi substituído por alguém, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), com verbete técnico irrepreensível, virtude alinhada ao padrão operacional que a presidente Dilma Rousseff imprime ao governo. A opção presidencial, assim o provam os atos e condutas adotados até agora, firma-se na convicção de que o estilo gerencial favorece a solução dos problemas mais críticos do Brasil. Não se pode negar a necessidade de o país submeter-se a um choque de gestão, algo que possa galvanizar energias produtivas e renovadoras.

Em razão do pragmatismo de Dilma, a substituta de Palocci, especialista em orçamento e gestão pública, cuidará de organizar o esforço do governo para alcançar maior eficiência da máquina administrativa e formular decisões pertinentes. Não lhe caberá promover a articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso. A circunstância nada convencional produz vácuo nas relações entre os dois poderes, por certo inconveniente a ambos. Qual será a autoridade que terá, tal qual a Casa Civil, estatura política para conciliar as posições do Executivo e do Legislativo? O ministro Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, não parece responder ao desafio.

A interrogação gera sensação perturbadora. Dilma tem pela frente a difícil tarefa de ouvir e fazer-se ouvir pelo Congresso para aprovar matérias de sumo interesse estratégico. A primeira configura-se em convencer o Senado a emendar o projeto do novo Código Florestal para ajustá-lo às cautelas defendidas pelo governo. Vale citar outras tão importantes ou mais: a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); a instituição da Comissão da Verdade; a proposta de emenda constitucional (PEC 300) que unifica o piso salarial de bombeiros e policiais do país e rende buraco de R$ 43 bilhões à União e estados; a reforma política; a distribuição de royalties resultantes das operações do pré-sal, critério vetado pelo então presidente Lula ao sancionar o projeto original.

A presidente Dilma, como os fatos demonstram, está convocada a realizar operação de larga envergadura para suprir o vazio da Casa Civil quanto à competência para entender-se com o Congresso. Solução que reclama urgência e peso político convincente, sobretudo ante a disposição das próprias bases aliadas, fenômeno recente, de barganhar em termos mais severos o apoio ao governo em questões essenciais. É trabalho insano, sem dúvida.