Título: A ministra dos ministros
Autor: Squarisi, Dad
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2011, Opinião, p. 24

Gleisi Hoffmann assume a Casa Civil. Não há ineditismo na escolha. Duas mulheres já se sentaram na cadeira mais importante da Esplanada. Dilma Rousseff se saiu bem. Erenice Guerra saiu chamuscada por denúncias de corrupção. O gênero, pois, não faz a diferença. Talvez a diferença resida na determinação. Gleisi tem consciência da oportunidade. Foi a primeira voz petista a se levantar contra Palocci. Nos três meses como senadora, ganhou o apelido de pit bull da presidente. Destacou-se.

Com a força do cargo, Gleisi tem de sintonizar o país com o próprio tamanho. O Brasil parece adulto apertado em roupas de escoteiro. Criança, ofereceu boa escola, saúde de primeira, aeroportos confortáveis, estradas suficientes, segurança confiável, portos adequados, ônibus pontuais. Quem tinha acesso às benesses? A população da cidade ¿ menos da metade dos brasileiros. Os demais, que viviam no campo, não sobrecarregavam o equipamento urbano.

Mas o tempo correu, a realidade mudou. As urbes se superpovoaram. O país meio autista não correu atrás de alfaiates ou costureiros. Continuou com o guarda-roupa infantojuvenil. Resultado: sem o poder da multiplicação de Cristo, o menos não se tornou mais. Manteve-se menos. Carnes, gorduras, ossos, pelos saltam das vestimentas apertadas.

Aeroportos se confundem com rodoviárias. Aviões se assemelham a galinheiros. Portos atrasam cargas e descargas. Estradas desperdiçam produção, tempo e veículos. Apagões roubam a confiança de investidores. O Judiciário se afoga em processos. Hospitais matam. A insegurança pública incrementa a segurança privada. Drogas assassinam infâncias e juventudes. Escolas enganam ¿ fazem de conta que ensinam, mas entregam à sociedade analfabetos totais ou funcionais.

Nada atende as urgências de um Brasil que força as portas do mundo desenvolvido. Gleisi Hoffmann é cara e sangue novos na política federal. Sem os vícios que mantêm o país na era das Capitanias Hereditárias, pode usar a autoridade de ministra dos ministros para derrubar as estruturas arcaicas ¿ sustentadas por corrupção e compadrios. Aliada à presidente, precisa vestir o Brasil com trajes adultos. Aí, sim, fará a diferença.