Título: O beija-mão de Vaccarezza
Autor: Rothenburg, Denise ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2011, Política, p. 2

A bancada petista na Câmara tentará até o último minuto reverter uma possível substituição do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, por um nome externo à Casa. Se for confirmada hoje, como previsto, a demissão do atual titular da pasta, a presidente anunciará o nome do novo ministro em seguida. Com Dilma Rousseff irritada pela fritura de Sérgio, incentivada por setores do próprio PT, as tendências da sigla em embate fratricida no parlamento procuraram transmitir uma imagem de unidade.

As duas principais correntes que se engalfinham por espaços de poder sentaram-se à mesa ontem na tentativa de fechar um nome de consenso. A ideia é apontar o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), como escolha da bancada. O lugar dele seria preenchido por um deputado de outra ala. A movimentação dos deputados para consolidar um nome da bancada durou toda a tarde e chegou ao Senado Federal.

Vaccarezza tentou turbinar a candidatura pedindo a bênção de caciques. Esteve com o líder peemedebista no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e se dirigiu à liderança do PT, onde se encontrou por alguns minutos com o senador Humberto Costa (PT-PE). O périplo incluiu um encontro com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Apesar de negar que os encontros foram motivados pela tentativa de ocupar o lugar de Luiz Sérgio, senadores do próprio partido confirmaram a intenção.

A candidatura ao ministério foi tratada abertamente com Sarney, Renan e Costa. Do líder do PT no Senado, o deputado ouviu que a presidente Dilma deve escolher a atual ministra da Pesca, Ideli Salvatti. ¿Não existe candidato a ministro. É uma decisão da presidente¿, disse Vaccarezza quando deixou a reunião na liderança do PT, no início da tarde. A ideia petista, apoiada pelos caciques do PMDB, é acomodá-lo no ministério e consolidar o nome do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) na liderança do governo na Câmara. No encontro com Humberto Costa, a receptividade foi menor. Os peemedebistas lavaram as mãos.

Arestas Para tentar passar a imagem de que o PT na Câmara está pacificado, o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), o líder do PT, Paulo Teixeira (SP), além de Vaccarezza, ainda tiveram demorada reunião no fim do dia. A leitura compartilhada pelo trio era de que a disputa dentro do partido minaria as chances de a bancada conseguir manter a cadeira na Secretaria de Relações Institucionais. ¿Nos reunimos para ver se havia diferenças e vimos que não. Acertamos como trabalhar para acabar com a impressão de que há disputas internas¿, disse Maia.

Se o presidente da Câmara passou a imagem de que nunca houve tensões, Teixeira admitiu que é hora de ajustar ponteiros. ¿Temos de evitar que os conflitos prossigam¿, resumiu. Candidato à vaga de Luiz Sérgio, o líder do governo disse que se sente constrangido por aparecer como postulante e que estaria sofrendo um processo de fritura. ¿Não sou candidato. É constrangedor aparecer como cotado. Existe hierarquia: ela é a presidente, eu sou líder do governo. A escolha é dela e rechaço qualquer indicação do meu nome¿, disse Vaccarezza.