Título: Endividados e sem confiança
Autor: Monteiro, Fábio ; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2011, Economia, p. 8

O encarecimento do crédito e a inflação alta estão assustando os brasileiros, que estão cada vez mais pessimistas com relação ao atual cenário socioeconômico do país e à capacidade de pagar suas dívidas. As taxas de inadimplência registraram alta pelo quarto mês consecutivo, conforme levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC/Brasil). O atraso no pagamento das dívidas foi 8,2% maior em maio deste ano em relação ao mesmo mês de 2010. Preocupadas com o orçamento apertado, 41,7% das famílias declararam em maio não ter condições de quitar as contas atrasadas ¿ a exceção foi o Centro-Oeste, onde apenas 20% alegaram o problema, apontam dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em abril, havia menos brasileiros (41,2% dos entrevistados) preocupados com as dívidas no país. Para piorar o quadro, tem diminuído o número daquelas famílias que achavam que dariam conta de honrar os compromissos totalmente, de 21,2% em dezembro último para 14,7% no mês passado. Conforme a pesquisa, 51,6% dos entrevistados assumiram estar muito endividados. Diante do aperto no orçamento, os brasileiros estão menos confiantes em relação à economia. O Índice de Expectativas das Famílias, medido pelo Ipea, recuou pelo oitavo mês seguido, registrando 62,9 pontos. Em dezembro passado, estava em 67,2 pontos. A pesquisa consultou 3.810 domicílios em mais de 200 municípios de todo o país.

Em 2011, a inadimplência apurada pelo SPC/Brasil acumula alta de 3,61%, após iniciar o ano em baixa de 10,09%, por conta do aperto no crédito e das seguidas elevações da taxa básica de juros (Selic). ¿A luz, que já estava amarela, passou a laranja¿, alertou o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior. Ele reforçou que os lojistas deverão ter mais cautela na concessão de crédito, avaliar mais detidamente a capacidade de pagamento e orientar o consumidor sobre as várias opções de taxas de juros.

Deterioração Os números do Ipea mostram que a maior preocupação nos lares brasileiros é com a economia de curto prazo, refletida principalmente nas compras de itens do supermercado. A pesquisa mostrou que 52% dos entrevistados acreditam que os próximos 12 meses serão positivos. Em abril, essa mesma impressão era de 59,1%. A maior deterioração da confiança foi detectada nas famílias que recebem até um salário mínimo por mês.

Além da percepção de piora no cenário econômico, os brasileiros também estão preocupadas com a renda. O Ipea descobriu que, em maio, 23,1% das famílias declararam estar em situação financeira pior que no mesmo período do ano passado. No mês anterior, eram apenas 22,6% dos entrevistados nessa situação. A insegurança com relação ao emprego também colabora com a mudança de humor dos domicílios. No mês passado, 76% revelaram estar tranquilos com relação ao trabalho atual, ante 78% em abril.

Otimismo Apesar dos sinais negativos, representantes do comércio não estão preocupados com essa mudança de humor. ¿Não vejo sinais específicos que possam alterar de maneira significativa o otimismo do consumidor nesse momento. O varejo não está sentindo os efeitos dessa desaceleração¿, disse José Baeta Tomás, presidente do grupo Sonae Sierra, responsável pela administração de 10 grandes shoppings brasileiros.

¿Nossa previsão inicial era crescimento de 9% para o setor varejista neste ano. Devemos rever essa análise, mas pode ser que o avanço seja superior a essa expectativa. Vários empresários estão fazendo investimentos arrojados. Então, esperamos ter um crescimento invejável¿, disse o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun.

Entre as famílias, além do menor índice de desconfiança dos moradores do Centro-Oeste do país quanto à capacidade de pagamento de dívidas atradadas, a expectativa em relação à economia alcançou, na região, 76,6% em maio. O menor índice de otimismo, 65%, é verificado na Região Norte.

BB e Caixa elevam taxas A elevação dos juros básicos (Selic), definida ontem pelo Banco Central, motivou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a elevaram novamente as taxas do cheque especial. O levantamento feito pelo Procon São Paulo apontou que Bradesco, HSBC, Itaú, Safra e Santander não alteraram suas alíquotas no mês passado, embora tenham permanecido como as instituições que cobram os maiores percentuais. O BB aumentou os juros de 8,27% para 8,37% ao mês e a Caixa, de 7,95% para 8,27% ao mês. Resultado: os juros médios passaram de 9,47% para 9,53% ao mês em junho.