Título: O tempo perdido com uma crise
Autor: Rothenburg, Denise ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2011, Política, p. 2

Se uma coisa irritou a presidente nas quatro últimas semanas foi ter de trocar as reuniões técnicas pelas negociações políticas. Na segunda-feira, Dilma pretende voltar à rotina burocrática ¿ falta combinar com os adversários, incluindo os integrantes da base parlamentar

Uma crise ministerial nunca vem só ¿ nem mesmo acaba com a demissão do personagem principal. Dilma Rousseff aprende rapidamente as regras, mas a paralisia enfrentada pelo governo nas últimas quatro semanas a incomodou mais do que o imaginado. De uma hora para outra, a presidente foi tirada dos afazeres burocráticos e levada ao centro do tabuleiro político. Deixou de lado as reuniões técnicas e acabou enfrentando as negociações, sempre a reboque da crise.

Depois da saída de Antonio Palocci da Casa Civil, Dilma tentou evitar a todo custo uma minirreforma ministerial. E, de certa forma, com a troca de Luiz Sérgio por Ideli Salvatti, conseguiu. Ficou um pelo outro, por mais que num período de menos de uma semana a presidente tenha mudado o nome dos titulares de três pastas.

Ao optar por não levar Cândido Vaccarezza (PT-SP) para a Esplanada e mantê-lo na Câmara, Dilma esquivou-se de ter de escolher um novo líder do governo na Casa. O que tomaria ainda mais tempo em negociações com os petistas.

Ao longo da próxima semana, a presidente espera voltar a ter tempo de cuidar da agenda oficial. Em vez de Palocci, terá a disciplina de Gleisi Hoffmann e a fidelidade de Ideli Salvatti. E a sombra inevitável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pronto a defender a petista, como fez mais uma vez ontem, quando mandou recado claro aos petistas que tentaram levar Vaccarezza para o Planalto: "Eu vou dar um conselho. Jamais alguém a obrigará a fazer uma coisa que ela (Dilma) não queira fazer."

O adversário Resta saber se tudo será combinado com os adversários, incluindo os integrantes da própria base parlamentar. Caso contrário, Dilma terá de perder ainda mais tempo com os políticos insatisfeitos. E o que não falta na Esplanada é político emburrado, por qualquer motivo, até por simples ciúme. Durante a gestão de Luiz Sérgio à frente da Secretaria de Relações Institucionais, os aliados reclamavam de não terem os pedidos atendidos. Nada garante que, com Ideli, as reclamações cessarão ou serão reduzidas. O pior é se tais reclamações forem estimuladas pelos petistas.

De uma só vez, Dilma tem no núcleo do governo duas ministras inexperientes na Esplanada. Tal coisa não é pecado. Ao contrário, pode até funcionar no momento em que se quebre amarras de um jeito velho de fazer política. E, de pronto, a mudança pode de fato vir a ocorrer, pois a tarefa de Ideli é levar as "demandas" da base diretamente para Dilma, coisa que Luiz Sérgio não fazia ¿ afinal tinha um Palocci no meio do caminho. Hoje, não há ninguém entre Dilma e Ideli. Quem irá atrapalhar?

Outra coisa "A gente bateu palmas porque às vezes é preciso fazer o papel de quem achou bom, mas isso não significa que concordamos", disse-me um governista sobre a ida de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil. A frase é menos uma crítica à nova ministra e mais um contraponto às odes dos parlamentares feitas à Gleisi no discurso de saída do Congresso, na última quarta-feira.

Passarelas É vergonhosa a situação das passagens subterrâneas das asas Norte e Sul de Brasília. Feitas para evitar que pessoas atravessem a via conhecida como Eixão e morram atropeladas ¿ e, assim, são da maior importância ¿, as passarelas estão sujas e degradadas. Mas parece que só sabe disso quem as usa diariamente. Se alguma autoridade tivesse que cruzar o Eixão uma vez na vida pelas passagens, elas estariam em melhores condições. Vale uma campanha: salvem as passarelas.