Título: Boicote à Copa do Mundo
Autor: Abreu, Diego ; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2011, Política, p. 6

O jornal italiano Corriere della Sera colocou em votação, na internet, a sugestão de o país europeu boicotar a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, após a negativa do Supremo Tribunal Federal (STF) em revisar a decisão do ex-presidente Lula de manter Cesare Battisti em terras brasileiras. A proposta é de Bruno Berardi, filho de um policial que teria sido vítima do ex-ativista. A pesquisa foi respondida por 12.688 pessoas, sendo que 78,7% aderiram ao protesto, enquanto 21,3% querem ver a Azzurra ¿ como é chamada a seleção italiana ¿ disputando o Mundial.

O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, lamenta que as críticas pela não extradição de Battisti estejam sendo dirigidas ao Supremo. "O processo de extradição foi entregue ao chefe de Estado do país, passando pelo STF, sim, mas a entrega ou não (do estrangeiro) cabe ao presidente da República. O Supremo está sendo interpretado como se houvesse proibido a extradição", reclama o ministro.

Ayres Britto observa, porém, que a Corte havia definido, por cinco votos a quatro, que Battisti era um criminoso comum ao autorizar a extradição em 2009. O ministro também destaca que o refúgio dado ao italiano acabou revogado. "Decidimos que Battisti é extraditável. Se o presidente vai fazer bom uso ou mau uso dessa interpretação (do STF), não cabe ao Judiciário aferir, uma vez que o presidente responde somente perante o Congresso Nacional", explica.

Alheio às repercussões de sua soltura, Battisti passou o dia de ontem no Guarujá, litoral paulista, onde se dedica a escrever os cinco últimos capítulos de um livro em que relata a sua vida na prisão. "Ele está comigo aqui no Guarujá, esperando a confecção de seus documentos de trabalho e de identidade. Passa a maior parte do dia escrevendo", contou o advogado e ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh. (DA e EL)

Lula não acredita em crise diplomática O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não acredita que a decisão do STF sobre o caso Battisti acarretará problemas nas relações do Brasil com os italianos. "Não vejo nenhuma razão para a Itália não tratar isso como questão da normalidade burocrática e soberana do Brasil", comentou Lula, durante encontro com o presidente recém-eleito do Peru, Ollanta Humala, que esteve nesta sexta-feira no país. "É normal algumas pessoas reclamarem, outras ficarem felizes, mas o Brasil não abriria mão de sua soberania e a Suprema Corte reconheceu o acerto da decisão do presidente", completou.