Título: O consumo perde força
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 11/06/2011, Economia, p. 17

CONJUNTURA Após 11 altas seguidas, as vendas do comércio têm queda de 0,2% em abril e refletem os efeitos da continuidade da elevação dos juros

A primeira queda nas vendas do comércio em abril ¿ um recuo de 0,2% sobre março ¿, depois de 11 meses de altas seguidas, ficou aquém do recuo 0,7% apurado em março de 2010 sobre fevereiro daquele ano, mas foi suficiente para representar um pé no freio do consumo. O dado apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), mostra que a suave acomodação de abril pode estar refletindo, finalmente, o esforço do governo para conter a inflação. ¿As vendas caíram, mas talvez não com a força que se desejava. Ainda é cedo para prever. É possível que essa seja uma queda pontual¿, assinalou Nilo Lopes de Macedo, analista do IBGE.

O técnico observou que algumas atividades ligadas ao consumo continuaram crescendo. A seu ver, o aumento da taxa básica de juros (Selic) e a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tiveram mais impacto sobre bens de maior valor, como veículos, motocicletas, partes e peças. Apesar da alta de 1,7% no volume de vendas nesses segmentos em relação a março, há sinais de desaceleração (na comparação com abril do ano anterior). Em relação com o mês do ano passado, o maior recuo, de 2,4%, foi sobre equipamentos e materiais para escritório, de informática e de comunicação.

O ramo dos móveis e dos eletrodomésticos continua crescendo 19,3%, na mesma comparação, e foi responsável pelo principal impacto na formação da taxa de varejo (51%), o que, na visão de Macedo, demonstra que os brasileiros com mais dinheiro no bolso, devido ao aumento real de salários, continuaram se endividando, apesar das medidas de restrição ao crédito. Mas, para o analista, essa parte da população também já começa a conter a ânsia consumista.

Robustez Quando confrontadas ao mesmo mês de 2010, as vendas do varejo, em abril, continuaram robustas, com crescimento de 10%. Nos quatro primeiros meses deste ano, registraram elevação de 7,6%, e, nos últimos 12 meses, subiram 9,5%. Para técnicos do Banco Santander, a expectativa era de uma queda de 0,4% em abril e alta de 8,6% no confronto com igual mês de 2010. Analistas do HSBC apostavam em altas de 0,4% e 11%, nas mesmas comparações.

Em abril, cinco atividades registraram expansão: veículos e motos, partes e peças (1,7%); móveis e eletrodomésticos (1,7%); artigos de uso pessoal e doméstico (1,7%); produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,2%); e material de construção (0,2%). Das 10 atividades analisadas pelo IBGE, cinco viram suas vendas recuarem: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%0); combustíveis e lubrificantes (-1,6%); livros, jornais, revistas e papelaria (-2,0%); tecidos, vestuário e calçados (-3,2%); equipamentos e material para escritório, de informática e de comunicação (-13,6%).

A receita nominal de vendas, pelos dados da PMC, continuou crescendo em todas as comparações. Em relação a abril de 2010, aumentou 15,4%. No ano, acumula alta de 12,6%. Em 12 meses, variou 13,7%. ¿Isso ocorreu porque tem a inflação embutida. Trata-se do efeito da alta dos preços, para compensar os custos¿, argumentou o analista do IBGE.