Título: Faltam atrativos
Autor: Rizzo, Alana ; Maciel, Alice
Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2011, Política, p. 2

Salas vazias, jovens desmotivados. Essa é a realidade encontrada nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) de Ribeirão das Neves (MG), onde são atendidos os adolescentes inscritos no Projovem. A reportagem visitou, na última quarta-feira, três centros, sendo que em um deles foi proibida de entrar. No Cras Pedra Branca, apenas três crianças apareceram para o encontro que ocorre três vezes por semana, das 14h às 16h30. Para Caroline Silva Souza, de 16 anos, não ter de ir ao compromisso todos os dias é bom, porque assim ela pode dormir depois da aula. "Desta forma, a gente não enjoa", disse.

O não cumprimento da carga horária mínima exigida pelo governo federal de 12 horas e meia semanais de atividades é somente um dos fatores que salta aos olhos. De acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, sete horas e meia da semana devem ser preenchidas com encontros coletivos e cinco horas, com oficinas. "Uma das nossas principais dificuldades é a falta de profissionais técnicos habilitados para outras atividades, como de arte, informática", afirmou uma das orientadoras sociais, que preferiu não ser identificada.

No Cras Areias, a situação não é diferente. Na sala onde ocorrem os encontros, apenas nove adolescentes estavam presentes. Uma menina, que não quis se identificar com medo de retaliações, disse que entrou no programa porque ficou sabendo que tinha taekwondo. "Mas até agora não tivemos aula nenhuma. Não tem aula de informática, não tem curso técnico, não tem atividade esportiva", contou.

Na contramão dos depoimentos das orientadoras sociais e dos participantes do programa, a coordenadora do Projovem Adolescente de Ribeirão das Neves, Lina Maria Veloso Bosco, disse que, uma vez por semana, os estudantes têm oficina de tapeçaria. De acordo com ela, com essas atividades, que têm duração de uma hora e meia, é atingida a carga horária exigida pelo governo federal. Entretanto, em nenhum dos Cras, os encontros chegam a completar 10 horas semanais. "Vamos começar a ter também o taekwondo", disse. "A gente tem como meta fazer com que o jovem de Ribeirão das Neves se torne um cidadão autônomo e solidário. Todo o nosso objetivo é em torno da melhoria da qualidade de vida desses meninos", acrescentou.

Sem controle Coordenador do Projovem Adolescente no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Alexandre Reis reconhece que é preciso aumentar o controle do programa. "Seria impossível o ministério fiscalizar um a um os 3,5 mil municípios atendidos pelo programa. Os estados têm essa atribuição, precisam visitar e conferir se aquilo que foi contratado está acontecendo", destaca. Além do sistema de vigilância do governo federal, ele destaca a importância do controle social. "Não é fácil trabalhar com jovem. É preciso garantir a qualidade dos serviços ofertados, com atividades interessantes e a seleção de bons profissionais." (AR e AM)