Título: BC em busca de diretores
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 12/06/2011, Economia, p. 17

Sistema financeiro Com o atual quadro sobrecarregado, órgão regulador intensifica procura no mercado por executivos para ocuparem cargos no alto escalão

Quase seis meses depois de assumir o comando do Banco Central, o presidente Alexandre Tombini ainda não conseguiu compor toda a equipe da instituição e continua em busca de dois nomes para assumir as diretorias de Assuntos Internacionais e de Pesquisas Especiais. Como, além de chefiar as áreas, os escolhidos participam do Comitê de Política Monetária (Copom) ¿ que define os rumos da taxa básica de juros (Selic) ¿, a expectativa é de que os escolhidos saiam do mercado financeiro, como forma de ampliar o debate em torno das decisões da autoridade monetária. Atualmente todos os membros do comitê são oriundos de carreiras públicas.

A procura do BC se intensificou nos últimos dias porque o diretor Luiz Awazu Pereira está sobrecarregado. Desde o início do ano, acumula a chefia das áreas de Regulação do Sistema Financeiro e de Assuntos Internacionais. Ambos os segmentos se tornaram sensíveis nos últimos meses: um devido à intensa valorização do real em relação ao dólar e das incertezas que envolvem a economia mundial. O outro, depois dos problemas com o Banco PanAmericano.

¿O BC tem uma missão tensa e que exige muito do quadro. Essa diretoria tem de contar com todos os seus elementos¿, avalia José Luiz Rodrigues, diretor da consultoria JL Rodrigues. ¿Principalmente em uma área regulatória, que é uma das mais importantes por colocar regras no sistema e agir também de maneira prudencial¿, aponta.

Para o economista e consultor Roberto Luís Troster, o momento é adequado para o BC buscar alguém do mercado financeiro. ¿O grupo atual é excelente, mas é sempre bom ter cabeças que pensam de maneira diferente¿, afirma. Luiz Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, concorda que é hora de diversificar as opiniões. ¿A crítica que se fazia às antigas gestões do BC era que tinha muito peso das instituições privadas, de não ter funcionários de carreira. Agora, o quadro se inverteu¿.

Zeina Latif, economista do Royal Bank of Scotland, foi sondada para a diretoria de Pesquisas e seria a primeira mulher a ocupar uma cadeira no alto escalão do banco, mas Tombini desistiu da nomeação. Há algumas semanas, a instituição manteve conversas com um renomado economista brasileiro que atua nos Estados Unidos, mas ele recusou alegando motivos pessoais.

Proposta recusada Outro convidado do presidente do BC chegou a vir dos EUA para um encontro do qual também participou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas por motivos pessoais recusou a proposta. Para evitar especulações e pressões do próprio mercado financeiro, a autoridade monetária está conduzindo a busca com discrição.

¿Algumas pessoas têm dito que o nome precisa ser mais alinhado com a Fazenda, para não voltarmos a ver uma divisão tão nítida entre os dois órgãos. Pode até ser um pouco disso ou pode ser porque ainda não encontraram pessoas dispostas ao trabalho¿, pondera Santacreu. ¿Têm de ser preenchidas essas diretorias vagas, para que se ganhem agilidade e boas condições de trabalho e, ao mesmo tempo, tenha-se essa mistura de ideias¿, sugere Rodrigues.