Título: As ferramentas de Ideli
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2011, Política, p. 2

Ao tomar posse ontem na secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti se mostrou extremamente diferente da guerrilheira de plenário que militou no Senado nos oito anos do governo Lula. Ao prometer firmeza nos princípios e abordagens mais afáveis nas negociações, tratou de tentar tirar a imagem de "durona" que construiu no Senado.

Tentou vender para o público externo o charme que marcou gestões como a de José Múcio Monteiro, Jaques Wagner e Alexandre Padilha, todos apresentados como "cases" de sucesso num cargo tão ingrato, sem poder de decisão sobre os assuntos que trata, como verbas e nomeações.

Mas Ideli carrega consigo uma grande vantagem sobre o antecessor, Luiz Sérgio. Um atributo que, por sinal, ajudou no sucesso dos demais: tem acesso à sala da chefe, condição fundamental para bom exercício do cargo. Luiz Sérgio despachava mais com Palocci. Quando tentava levar algo direto a Dilma e ela estava ocupada, não tinha intimidade suficiente para chegar a dizer: "Preciso falar com ela porque o assunto é urgente".

Além disso, Luiz Sérgio havia sido imposto pela bancada. Ideli foi Dilma quem escolheu. Se der errado, não poderá ser acusada de ser uma ministra fraca, sem frequentar o gabinete presidencial. Aí o problema será mesmo de Dilma, que fez tanto esforço ontem para dizer que seu governo tem afinidade com a política. É isso que veremos agora. A guerrilheira de plenário terá que lutar internamente para fazer valer os acordos que celebrar e incluir os partidos na área de governo. E se nada der certo, ninguém duvida que a culpa não será mais de uma ministra. E sim de quem a colocou lá. (DR)