Título: Boicote de lideranças
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2011, Política, p. 2

A nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, mal assumiu o posto e já tem sinais de que enfrentará o mesmo terreno minado na Câmara, responsável pela demissão do antecessor, Luiz Sérgio. Em claro sinal de contrariedade, apenas um líder da base aliada na Casa compareceu à cerimônia de posse da nova ministra ¿ 16 faltaram. O protesto teve como motivo a baixa liberação de emendas parlamentares pelo governo federal. Alguns partidos, como PTB, PCdoB e PSC, nem sequer enviaram representantes.

A explicação oficial da maioria dos líderes partidários é de que os compromissos nos estados impediram a presença. Apenas Paulo Teixeira (PT-SP) bateu ponto na posse. O sinal de descontentamento enviado ao Palácio do Planalto, no entanto, aponta para um calo do governo Dilma Rousseff: a liberação de emendas parlamentares. Desde o início do ano, foram cortados R$ 18 bilhões, ou 72% dos recursos destinados por deputados e senadores no Orçamento de 2011. Das contas de 2010, 10% foram liberados.

O ponto havia sido abordado na última reunião de líderes da base aliada na Câmara, na semana passada. Ao líder governista, Cândido Vaccarezza (PT-SP), os parlamentares pediram que o governo assumisse o compromisso de liberar ao menos 30% dos recursos de 2010 até o fim do semestre. Na época, o pedido veio em forma de fatura pela defesa do então ministro Antonio Palocci. O petista saiu da Casa Civil, mas o pedido não avançou um milímetro. ¿Existe uma insatisfação clara com as emendas. Os restos a pagar de 2009 e 2010 estão sendo pagos a conta-gotas. Chegamos a junho e não aconteceram as emendas individuais dos parlamentares¿, reclama o líder do PP, Nelson Meurer (PR).

Insatisfação Com o bolso vazio, os líderes decidiram não comparecer à posse de Ideli. Nos bastidores, dizem que esperam dela um aceno em relação às emendas na reunião de líderes de hoje. O problema é que na primeira reunião da base aliada depois da posse da ministra, os líderes não devem ter o encontro desejado, já que Ideli pretende comparecer a um almoço marcado por Dilma com senadores do PR. ¿É o primeiro encontro dela, uma oportunidade de nos apresentarmos. É complicado ela não vir devido às insatisfações que existem. Precisamos criar uma solução para a questão das emendas¿, pede o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Embora o pano de fundo tenha sido a torneira fechada para as emendas parlamentares, a maioria dos líderes da base alegaram a agenda lotada em seus estados para não comparecer à posse. O fato de a cerimônia ter ocorrido na segunda-feira, dia seguinte ao de Santo Antônio, também teria influenciado. A Secretaria de Relações Institucionais enviou convite para todos os líderes ontem de manhã e ligou para algumas lideranças.

Se na Câmara o evento foi boicotado, praticamente todos os partidos aliados no Senado foram representados. Estiveram no evento os líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL); do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), além do vice-líder, Gim Argello (PTB-DF); do PT, Humberto Costa (PE); e do PP, Francisco Dornelles (RJ). Os governadores de oposição Raimundo Colombo (SC) e Rosalba Ciarlini (RN), do DEM, também compareceram.

MARINA RUMO À INDEPENDÊNCIA A ex-senadora Marina Silva (PV-AC) deu claros indícios de que deve iniciar o processo de criação de uma nova legenda a partir do ano que vem. Derrotada na campanha presidencial, Marina deu entrevista ao programa Roda Viva e expressou o descontentamento com a pouca rotatividade nos postos de comando do partido, além da dificuldade de implementar uma agenda ambiental no PV. Uma possível saída da legenda, no entanto, só deve ser sacramentada em 2013, após as eleições municipais. Para concorrer ao pleito de 2012, uma nova legenda teria pouco mais de três meses para recolher 500 mil assinaturas, além de dar conta dos trâmites burocráticos.