Título: A conta da base aliada
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2011, Política, p. 2

Os líderes dos partidos aliados apresentaram ontem à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a fatura pelo apoio ao governo neste primeiro semestre. Eles querem o empenho de 50% das emendas individuais ¿ aproximadamente R$ 2 bilhões ¿ até 15 de julho, quando começa oficialmente o recesso parlamentar e a prorrogação, até dezembro de 2011, do decreto que libera os restos a pagar de 2009. Além disso, cobram agilidade na nomeação dos cargos, já que 75% do segundo escalão ainda segue em aberto.

Aproveitando a fragilidade da coordenação política do governo, os deputados também pediram a Ideli que os parlamentares de primeiro mandato recebam recursos para atender as bases eleitorais. Nesse caso, eles "herdariam" as emendas de parlamentares que não foram reeleitos. "A liberação das emendas vai além de um pedido. É uma determinação desta Casa, pelo direito de o parlamentar ter suas emendas respeitadas", disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

A ministra reconheceu que a relação do Palácio do Planalto com a base parlamentar precisa melhorar e pediu tempo para mudar o cenário adverso. "Nesta semana retomamos o pé da Secretaria de Relações Institucionais. Haverá a maior agilidade possível para as nomeações, com critérios técnicos e de responsabilidade", afirmou a ministra.

Ausência em almoço Menos de 24 horas após tomar posse em substituição ao petista Luiz Sérgio, Ideli já enfrentou a primeira crise: os deputados não gostaram da ausência dela no almoço com o líder do governo, Cândido Vaccarezza. No mesmo horário, a ministra participava de um almoço com os senadores do PR, convocada por Dilma. "Três senadores do PR devem ser mesmo muito mais importantes que 400 deputados", criticou o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO).

Ideli enviou ao almoço o secretário-executivo da Secretaria de Relações Institucionais, Cláudio Vignatti (PT-SC), desafeto político dela e que ainda não tem certeza se permanecerá no cargo. Diante da avalanche de críticas, Vignatti ligou na mesma hora para Ideli e sugeriu que ela abrisse um espaço ainda ontem na agenda para receber os deputados, em vez de deixar o encontro para amanhã, quando a maior parte dos parlamentares estará em seus estados.

Para complicar ainda mais a vida da nova ministra, o antecessor, Luiz Sérgio ¿ atual ministro da Pesca ¿ compareceu ao almoço com os líderes. E foi bastante aplaudido. "O ministro Luiz Sérgio foi excelente para nós e cumpriu seu papel. Ele ouvia nossas queixas e anotava nossos pedidos. Mas não tinha orçamento para resolver nossos problemas", disse o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG).

Votações Os parlamentares reclamam que recaiu sobre a Câmara a responsabilidade pela derrubada de Luiz Sérgio. "É uma injustiça com os deputados. A Câmara deu as principais vitórias para o governo neste ano", defendeu o líder governista, Cândido Vaccarezza. Ele lembra que os deputados estão segurando, há dois anos, projetos explosivos como a PEC nº 300 ¿ que equipara os salários de bombeiros e policiais militares aos vencimentos pagos aos militares do Distrito Federal ¿ e a Emenda nº 29, que define os gastos com a saúde. O Planalto quer aproveitar o projeto para recriar um imposto para a saúde, mas os parlamentares não querem assumir o desgaste político. Esses dois projetos estarão na pauta do encontro que Ideli Salvatti terá hoje com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

Para dar mais agilidade à Ideli e diminuir o gigantismo da Casa Civil durante a gestão de Antonio Palocci, a presidente Dilma avisou aos senadores do PR que a relação política, daqui para frente, ficará restrita à pasta de Ideli. Também deixa de ser responsabilidade da Casa Civil administrar as contas publicitárias do governo, tarefa que voltará a ser exercida pela ministra Helena Chagas, da Comunicação Social.

Apesar do dia de queixas, Ideli pode comemorar uma vitória: o Senado aprovou, por 49 votos a 12, a MP nº 525, que cria vagas de professores substitutos em universidades. Os deputados também aprovaram a MP nº 526, que capitaliza o BNDES com R$ 55 bilhões. Mas o primeiro grande teste ocorrerá hoje. A Câmara votará a MP nº 527, que cria a Secretaria de Aviação Civil, com 126 cargos de DAS e outros 260 para controladores de voo, sendo 160 temporários. Além disso, a MP trará as novas regras para flexibilizar as licitações das obras da Copa do Mundo. "É uma medida provisória complicada porque a oposição não aceita essas novas regras", alertou Jovair. "Mas acho que a reunião da Ideli com a gente hoje (ontem) aumenta os ânimos da base", prosseguiu.