Título: População do DF insegura
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Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2011, Opinião, p. 12

A escalada da violência no Distrito Federal avança na direção de verdadeira catástrofe ante a inoperância da reação preventiva e repressiva do aparelho de segurança pública. Já não há nenhuma área em que as pessoas possam se sentir protegidas. Todos os tipos de ataques do repertório utilizado por celerados se sucedem à luz do dia, tanto nas comunidades mais carentes quanto nos endereços mais nobres do Plano Piloto. A distribuição da atividade criminosa se realiza de maneira democrática, isto é, alcança tanto as vítimas do infortúnio quanto os bem-afortunados.

Na ausência de policiamento em regime de mobilização imediata e atenta para evitar crimes, as vias ficam entregues à ação de delinquentes. É o cenário propício para que assaltem pessoas isoladas ou em veículos e as façam reféns, com o propósito de extorquir-lhes dinheiro, cartões de crédito, talões de cheque, relógios e outros bens de uso pessoal. Na maioria dos casos, obrigá-las a fazerem saques em caixas eletrônicos e entregar-lhes as quantias sacadas. À modalidade criminosa dá-se o nome de sequestro relâmpago. E felizes são aqueles que saem com vida da aterrorizante experiência.

A avalanche do terror é brutal contra as mulheres. Além de mais expostas à sanha delituosa, muitas passam pela monstruosidade do estupro. De janeiro a março deste ano, houve nada menos de 165, dois a cada 24 horas (aumento de 51% frente ao mesmo período do ano passado). Segunda-feira, uma jovem de 24 anos, por volta das 17h, foi agredida com a mesma violação bestial, em plena 108 Norte. Elas são atacadas por sociopatas em qualquer ocasião, dia ou noite, perto ou longe de aglomerados residenciais.

Nas cidades goianas situadas no entorno de Brasília, em particular Luziânia e Águas Lindas, em cada 10 dias 19 pessoas são assassinadas, conforme dados oficiais. Trata-se de uma das regiões com índices de criminalidade que, em termos proporcionais, são os mais elevados do país. É canteiro onde florescem facínoras e outras classes de bandidos. Os governos do Distrito Federal e de Goiás confeccionaram planos e convênios para mudar o cenário turbulento. Mas, até hoje, as boas intenções não saíram do papel. Já o governo federal parece haver esquecido investimento de R$ 9 bilhões, à conta do PAC, para melhorar e civilizar a incômoda periferia do DF.

Não admira que a população de Brasília, sitiada pela ação de homicidas e de toda sorte de marginais, se mostre revoltada com a indiscutível omissão das autoridades em garantir a segurança dos cidadãos, principal dever do Estado. É intolerável que a capital da República se converta em campo livre para domínio do crime, enquanto o estamento policial permanece inerte, embora pago com justa remuneração bancada pelos contribuintes.