Título: A barganha dos cargos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2011, Política, p. 2

Aliados cobram as nomeações de segundo e terceiro escalões para mostrar força nas eleições municipais do ano que vem. PT e PMDB disputam indicações

A pressa dos aliados do governo Dilma Rousseff pelas nomeações para os cargos de segundo e terceiro escalões é motivada pelas eleições municipais de 2012. O número de vagas em disputa pode parecer pouco expressivo ¿ aproximadamente 300 ¿, mas catalisa a força política dos partidos nos estados. Somadas ao empenho das emendas parlamentares, representam o prestígio dos deputados junto a prefeitos e vereadores, e também a oportunidade de ter o que mostrar aos eleitores no ano que vem. Mais uma vez, PT e PMDB são os principais oponentes, de olho em mais da metade desses postos. O partido da presidente Dilma Rousseff apresentou uma lista com 104 demandas, enquanto a legenda do vice Michel Temer cobra 50 nomeações.

Os aliados reclamam que o PT é hegemônico na base da pirâmide. Aproximadamente 70% dos cargos cobiçados estão nas mãos de petistas. A indicação de um nome de outra legenda para qualquer órgão federal não significa que o partido terá liberdade administrativa para compor as respectivas diretorias. Normalmente, os aliados emplacam um nome de sua preferência, mas a base do órgão federal continua dominada pelo PT, o que implica inevitável paralisia e disputa política.

Os principais objetos de desejo são ministérios com orçamento para grandes obras e projetos, como Transportes, Energia, Cidades, Integração Nacional e Agricultura. Também querem emplacar nomes nos bancos públicos e de investimento, como BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e da Amazônia. Com isso, acreditam que conseguirão aliar a execução dos projetos com uma liberação mais ágil de recursos.

Ressalvas Superada a crise política que paralisou o governo por quase um mês e que culminou na demissão de Antonio Palocci da Casa Civil, a presidente Dilma deu o aval para que a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, faça um levantamento de todas as pendências na máquina pública federal. Mas ainda mantém algumas ressalvas. A primeira é que não aceitará, sob nenhuma hipótese, nomeações políticas para as agências reguladoras. A segunda é a manutenção do cuidado dos aliados em indicar nomes que tenham um mínimo de conhecimento técnico do setor em que vão atuar. Para um aliado, todos os partidos têm seus especialistas, mas o Palácio do Planalto insiste em achar que os "Ph.D.s" do PT são melhores que os demais. Lentamente, no entanto, o governo vai saindo da letargia. Na terça-feira tomou posse o novo presidente do Banco do Nordeste (BNB), Jurandir Santiago, nome negociado em conjunto entre o PMDB ligado ao senador Eunício Oliveira (CE) e o PSB do governador do Ceará, Cid Gomes.

O PT é apontado como o maior responsável pelas dificuldades nas nomeações. Por ser o partido da presidente, a legenda resiste a desalojar os filiados e, quando isso é necessário, cobra que ele seja imediatamente encaixado em outro lugar ou que o sucessor também seja apadrinhado por um petista. Um exemplo disso é a nomeação de Sérgio Dâmaso para a presidência do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), apoiado pelo PMDB. A indicação só foi confirmada, após dois meses de debates, quando o grupo petista ligado ao ex-ministro Patrus Ananias avalizou a escolha.

Ainda é uma incógnita se Ideli Salvatti conseguirá atender aos anseios dos partidos aliados. O modelo de articulação política anterior mostrou-se ineficaz. O ex-ministro de Relações Institucionais Luiz Sérgio anotava todos os pedidos dos aliados e repassava a lista para Palocci. Cabia a ele a tarefa de levar as demandas para Dilma. Reza a lenda que, a cada 10 indicados, a presidente aceitava dois ou três, no máximo. Os aliados torcem para que Dilma se torne mais flexível, aproximando-se mais do perfil de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que cobrava a fidelidade nas votações no Congresso sem preocupar-se com os indicados pelos partidos aliados.

Dilma iniciou o mandato buscando impor uma imagem de austeridade e um perfil mais gerencial. Mas já foi avisada de que todos os presidentes que "deram as costas ao Congresso" tiveram extrema dificuldade para governar.

Prefeitos e vereadores As eleições municipais serão realizadas em 7 de outubro do ano que vem. Com exceção do Distrito Federal, os eleitores das outras 26 unidades da Federação vão às urnas em 5.565 cidades para eleger vereadores e prefeitos. Dados do TSE de maio de 2011 mostram que são 133.042.100 eleitores aptos a votar em 2012.