Título: Grécia em convulsão
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Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2011, Economia, p. 16

População vai às ruas e quase derruba o primeiro-ministro. Para se preservar, ele demite todo o gabinete. No Brasil, Bovespa desaba

Atenas ¿ A Grécia foi tomada ontem por uma violenta onda de protestos, na qual nove pessoas ficaram feridas. Munidos de bombas caseiras, manifestantes atacaram o prédio do Ministério das Finanças e foram repelidos pela polícia com gás lacrimogêneo. A capital grega se transformou num campo de guerra, o que obrigou o primeiro-ministro, George Papandreou, a dissolver seu ministério e a anunciar a formação de um novo governo. Ele acredita que, assim, conseguirá um voto de confiança no Parlamento para promover ajustes na economia e evitar um iminente calote do país. A tensão foi tanta que todas as bolsas da Europa fecharam a quarta-feira em baixa e o euro recuou 1,8% ante o dólar. A Bolsa de Valores de São Paulo também cedeu, para os 61.604 (-0,97%), o menor nível em quase um ano. Foi o pior dia nos mercados desde o início de maio.

Em 2010, a Grécia já havia recebido um socorro de 110 bilhões de euros para honrar seus compromissos. Esperava-se que, com a ajuda da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país saísse do atoleiro. Mas a dificuldade do governo em pôr em prática os cortes de gastos de 28 bilhões de euros até 2015 se mostrou maior do que o imaginado. A população não aceita o receituário: aumento de impostos, privatização de estatais, redução de 20% no quadro de servidores e corte nas aposentadorias.

A perspectiva de derrocada da Grécia assusta os investidores, pois pode levar junto Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. Apesar dos riscos, a Europa está dividida. Os países mais ricos se recusam a dar uma nova ajuda. Mas todos admitem que, se for à ruína, deflagrando uma leva de calotes na região, a Grécia levará à destruição do euro. Autoridades afirmaram que o acordo entre os governos do bloco sobre um segundo pacote de resgate a Atenas pode ser adiado até meados de julho.

Com dezenas de milhares de gregos nas ruas, o primeiro-ministro admitiu ao líder da oposição, Antonis Samaras, que renunciaria caso não houvesse união em torno de um plano para alcançar os termos exigidos pela UE e pelo FMI. Mas ele acabou recuando. Não se sabe, porém, até quando Papandreou conseguirá se manter no cargo. Os partidos de oposição já pressionam pela antecipação das eleições.