Título: Risco menor que nos EUA
Autor: Caprioli, Gabriel; Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2011, Economia, p. 17

Pela primeira vez, chance de o Brasil não pagar dívida é menor que a norte-americana. Para economistas, a situação é passageira

O impasse acalorado entre os parlamentares norte-americanos em torno do aumento da dívida pública levou o país a uma situação inédita: pela primeira vez na história, o risco de os Estados Unidos darem um calote em seus credores é maior do que o do Brasil.

O cálculo é feito com base no credit default swap (CDS), instrumento semelhante a um seguro que cobre o custo de proteção para um eventual descumprimento de obrigações financeiras. Na terça-feira, o indicador brasileiro para o período de um ano caiu para 42 pontos, ante os 49 pontos da economia americana, melhoria de perfil que é positiva não apenas porque contribui com a percepção dos analistas em torno da capacidade de pagamento do governo brasileiro, mas também porque incrementa os preços dos títulos do Tesouro Nacional.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, apressou-se em puxar a sardinha para a brasa da economia brasileira ao afirmar que "isso (a inversão dos indicadores) mostra a solidez da economia e a confiança que os mercados depositam sobre a situação brasileira". Os economistas, porém, acreditam que o avanço do risco norte-americano é pontual e está mais ligado ao embate no Congresso dos EUA do que à incapacidade do gigante continental bancar sua dívida.

"Existem preocupações com a situação fiscal, mas isso se deve à ansiedade do mercado por uma decisão", comentou o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros. Essa semana, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Ben Bernanke, alertou que o país poderia deixar de pagar temporariamente seus compromissos a partir de agosto, caso o teto da dívida (US$ 14,3 trilhões) não seja ampliado.

Debate político Ontem, porém, os congressistas estabeleceram uma meta para resolver a questão até 1º de julho, o que torna o perigo de não pagamento menor, segundo os economistas. "Os Estados Unidos não são uma Grécia. Eles têm capacidade de pagar suas dívidas. Isso não se discute.

No momento, o risco é apenas político, mas certamente nenhum dos partidos vai querer ser reconhecido como o grande culpado de uma crise mundial", comentou o economista-chefe do Banco West LB, Roberto Padovani. Para ele, o fato de a discussão em torno do aumento da dívida estar ligada ao debate de ajustes fiscais do governo de Barack Obama é bastante positivo, pois reflete um comprometimento para que a situação econômica nos EUA e no resto do mundo não piore.

Alexandre Schwartsman, ex-economista-chefe do banco Santander reforçou: "Continuo a acreditar que este risco é muito, muito, remoto. Politicamente, ninguém quer arcar com o custo de interromper os pagamentos. Espero estar certo, porque ninguém sabe como seria o dia seguinte."

O professor de relações internacionais do Ibmec-DF, Creomar de Souza, no entanto, alertou para os riscos que os governos (credores dos EUA) correm se a probabilidade de um for iminente, pois os estados perderiam a capacidade de financiar investimentos em áreas importantes como saúde, educação e infraestrutura. "Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos sempre foram os mais confiáveis do mercado. Não somente o Brasil, que é um dos principais credores, mas a China estaria muito exposta a esse risco", afirmou.

O governo brasileiro detém cerca de US$ 190 bilhões em títulos norte-americanos, o que o coloca como o quinto maior financiador da dívida dos EUA. Só perde para China, Japão, Reino Unido e um grupo de países exportadores de petróleo.